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“CANTANDO NA CHUVA”
Sempre que chove, passam duas coisas pela minha cabeça: tomar um banho de chuva ou pegar um guarda-chuva e sair dançando no meio da rua que nem o ator Gene Kelly em “Cantando na Chuva”.
Sou um fã de musicais desde adolescente, mas confesso, este filme é meu preferido. Já o assisti ‘n’ vezes, tanto nas telonas dos cinemas da vida como nas telinhas da TV e agora da internet...
Nos meus tempos de escola, eu e minha turma, que tínhamos o cinema como nosso único hobby aqui em Umuarama (não havia TV, acreditem!), fazíamos essa brincadeira na volta das aulas rumo a casa. Era uma festança...
A gente, na época, não sabia pronunciar direito a canção (em inglês), mas arremedava bem. E lá íamos cantando e... tentando dançar igual ao cara! Bobagem, né, a gente só fazia palhaçada e levava uns tombos pra deixar de ser meio besta.
Chegávamos em casa ensopados de água, tanto as roupas como os calçados... Era aquela bronca, claro.
Mas a gente era feliz! E muuuuito feliz!!! E sabíamos muito bem disso... (Acho idiota aquele que diz que era feliz e não sabia. Oras, se não sabe diferenciar tristeza e alegria, então é um inútil!)
Mas, voltando ao filme... Chama atenção a forma como a sequência resistiu ao tempo, mais de meio século. Na época de lançamento, 1952, os críticos e as premiações quase deixaram “Cantando na Chuva” passar em branco.
No Oscar, por exemplo, a produção só conseguiu duas indicações (melhor atriz coadjuvante para Jean Hagen e melhor trilha musical), mas não levou nenhuma estatueta para casa...
O filme ficou engavetado pelo estúdio MGM até a década de 70, quando passou por um processo de restauração. Foi só nos anos 80, quando entrou na grade de programação das emissoras de TV, é que “Cantando na Chuva” ganhou popularidade e começou a conquistar prestígio no planeta inteiro. O ciclo de louros tardio se fechou em 2007, quando o American Film Institute elegeu a produção como o quinto melhor filme da história do cinema!!!
Pra entender o sucesso de “Cantando na Chuva” é só assistir à sua cena mais famosa. Felizes, bem-humorados e despretensiosos, os quatro minutos que Gene Kelly passa dançando e rodopiando deixam sempre um sorriso na boca de quem assiste. A gente até tenta imitar, balançando de levinho no sofá enquanto assiste...
Neste momento do filme, o personagem está repleto de felicidade, pois tem um grande plano para o trabalho e é retribuído no amor. Ou seja, dois motivos de sobra pra transbordar felicidade e contaminar todo mundo do lado de cá na platéia.
NA GRAVAÇÃO, O ATOR ESTAVA
COM 38 GRAUS DE FEBRE!!!
E haja bom humor pra conseguir fazer a cena! Quem assiste o ator esbanjando felicidade, não imagina que ele estava com 38 graus de febre quando gravou a coreografia!!!
Mesmo sem uma certeza sobre o tempo que levou a filmagem (alguns registros apontam um dia inteiro, enquanto outros dizem que foram poucas horas...), o que importa é que, mesmo doente, o ator permaneceu lá, encharcado, repetindo e repetindo a cena até que ela estivesse ok.
Além do desconforto do resfriado, Gene Kelly ainda precisou trocar várias vezes de figurino, pois além de molhados, os ternos ainda encolhiam com a água.
Outra curiosidade sobre a cena é em relação à tempestade. Por muito tempo, correu a informação de que a água foi misturada com leite para que os pingos d’água ficassem grossos e se tornassem visíveis para a câmera.
Apesar de criativa, a solução foi desmentida por produtores do filme há pouco tempo. Eles afirmaram a chuva era composta apenas de água mesmo e que a visibilidade dos pingos foi obtida usando apenas técnicas de iluminação do cenário.
UM DANÇARINO GENIAL
Além de não ser uma música inédita - “Singing in the Rain” foi criada em 1929 para o filme “Hollywood Revue” -, quase que a cena da chuva não existiu. No roteiro original, a canção seria executada em trio por Gene Kelly, Donald O’Connor e Debbie Reynolds.
Após algumas alterações, o número envolvendo os três passou a ter a música “Good Morning” como trilha sonora e “Singing in the Rain” ficou então liberada para o número solo de Gene Kelly.
E Kelly mostrou (a exemplo de outros musicais que estrelou) porque era aclamado com um dos maiores dançarinos de todos os tempos no mundo da dança!
Afinal, se dançar em piso seco e firme de um palco já é um show, imaginem em calçadas e pista antigas de paralelepípedos molhados??? E no ritmo alucinante dessa canção??? E ainda por cima se equilibrando com um guarda-chuva e se agarrando a um poste liso e molhado???
Realmente, Kelly é imortal, um artista completo em todos os sentidos!
E a tal mudança da cena, vista incansavelmente no mundo inteiro há 65 anos, deixa os dias chuvosos muito mais felizes, afinal é um presente dos céus. E ela faz do cinema uma das artes mais apaixonantes... (ITALO FÁBIO CASCIOLA)