Coluna Italo

Quem viveu aquela época não esquece a ansiedade de vários dias à espera do início da badalada Exposição Feira Agropecuária e Industrial de Umuarama (abreviada como Exapiu).

Finalmente chegou 16 de fevereiro de 1974, a data marcada para a inauguração do Parque de Exposições e a chegada de um famoso artista da época para dar início à programação de espetáculos musicais no grande evento.

Era um sábado quente, muito calor como acontece no verão brasileiro. A cidade estava hiper agitada não só pela população que comemorava essa data especial, mas pela multidão de visitantes que chegava de todos os cantos há vários dias para curtir a festa.

Já no começo dia, que repito era um sábado, a galera começou a rumar para a Exapiu, afinal tinha um monte de atrações para ver e espaços para se reunir e se divertir.

Já era o fim da tarde, anunciaram pelos alto-falantes do Parque que a celebridade tão esperada havia chegado e estava no hotel descansando e se preparando para o primeiro espetáculo que aconteceria no palco da Exapiu: o famoso cantor Lindomar Castilho! Quem? Lindomar Castilho!!! A galera destas últimas gerações não conhece... Mas esta narrativa exige que se registre que ele era um dos artistas mais festejados da música brasileira antiga, consagrado como o Rei do Bolero!

O show estava marcado para as 20 horas; meia hora antes chegou ao camarim do palco. Sem ostentação e emitindo simpatia ao cumprimentar os organizadores e fãs que o aguardavam, deu uns retoques nos cabelos e se acomodou numa poltrona.

Lá fora, na arena e na avenida central lotadas, o povo cantava trechos de suas canções. Tudo misturado com gritos citando seu nome. Uma loucura, o cara era famoso mesmo. O detalhe é que essa legião de fãs não era jovem, a absoluta maioria tinha mais de 30 anos e, claro, todos havia passado a tarde biritando nos botecos da Expo. Afinal, sua música tinha tudo a ver com deliciosos gorós gelados de espumantes e caipirinhas...

Os ponteiros dos relógios apontaram: a hora H havia chegado!!! E ele, com seu jeito animado e divertido, foi subindo aos pulos a escada interna até surgir no meio do palco. A terra tremeeeeu!!! O povo surtou!!! E ele começou a cantar com seu vozeirão. E a grande maioria da plateia cantava junto, mas nada de doideiras do estilo de roqueiro.

Ela balançava no ritmo das canções, alguns até derramavam lágrimas, principalmente as mulheres, que também não eram jovens mas mostravam que eram apaixonadas pela música melancólica brega.

Esse balanço geral seguindo a maestria de Lindomar Castilho durou duas horas... Claro, que no final, quando começou a se despedir, presenteou todo mundo repetindo mais duas canções que ele havia sentido que eram as preferidas de seus milhares de fãs que lotavam a arena de rodeio e os arredores de todo o Parque... Mas na hora do fim, foi fiiiim mesmo! Deu tchau, mandou beijos e desceu a escada do palco, correu atravessando o estúdio e entrou voando no carrão que o esperava, um Ford Galaxie preto brilhante!!! E rumou direto para o hotel, de onde saiu bem cedo e seguiu para Maringá onde embarcaria em avião rumo ao Rio de Janeiro.

Assim foi o memorável primeiro show da história de meio século da Expo Umuarama! A nossa feira agropecuária havia começado com estrondoso sucesso!!!

RETUMBANTE SUCESSO DESDE QUE COMEÇOU A CANTAR

Lindomar Castilho era um ser iluminado e havia nascido para ser um colecionador de sucessos desde o início da carreira. O cantor começou a sua caminhada artística em 1962, cantando boleros e sambas-canções românticos, se tornando um dos maiores vendedores de discos no Brasil da década de 1970. Para se ter uma ideia dessa realidade basta dizer que seus discos chegaram a ser lançados simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos – lá a colônia brasileira disputava seus compactos e LPs (que fique bem claro, era o tempo dos discos de vinil!).

Em 1962 Lindomar gravou seu primeiro álbum, intitulado “Canções Que Não Se Esquecem”, cantando 12 sucessos do cantor, compositor e ator Vicente Celestino, sua principal influência artística. Em 1964 lançou pela Continental “Alma, coração e vida” (A. Flores e Wilson Brasil), seu segundo LP, conduzido pela faixa-título "Somente uma flor". Com a grande repercussão de suas músicas, na época reinava em todas as emissoras de rádio.

Ele não parava de trabalhar alucinadamente e em 1965 gravou “Escuta minha oração”, com destaque para as faixas "Falhaste coração" e, um de seus maiores sucessos como intérprete, "Ébrio de amor" (Palmeira e Ramoncito Gomes), foi gravada também em espanhol e lançada em vários países da América Latina.

No ano seguinte lançou “Mensagem de carinho”, que revelou as canções "Inesquecível" e "Por esta mesma porta"; e entre 1967 e 68, gravou três álbuns homônimos, com destaque para "Amor de pobre", "Meu coração está de luto", "Esta tarde vi chover", "Contigo aprendi", "Coração, Coração", "Porta na cara", "A chance" e "Saudade de você".

Em 1969, teve fôlego para lançar mais três LPs: “Somos iguais” (gravado em espanhol) e “Canções que não se esquecem - Vol. 2”, este com regravação de antigos sucessos e da última música composta por Vicente Celestino, "Minha mãe" (com Marina Ghiaroni), gravada pelo autor em Obrigado meu Brasil (RCA Victor, 1968).

ELE SE DEU AO LUXO DE GRAVAR/CANTAR “EU CANTO O QUE O POVO QUER!”

Em 1970 Lindomar Castilho estreou na RCA Victor, sua nova gravadora, com um LP homônimo que trouxe, além do sucesso "Pureza", de Osmar Navarro, a autoral "Aleluia ao amor", sua primeira incursão como compositor.

Amparado por hinos como "Mamaracho" (Franco, Valdez e Mony, versão de Sebastião Ferreira da Silva) e "Coração vagabundo" (Marcos Pitter), o Rei do Bolero gravou em 1973 “Vou rifar meu coração”, que grifou seu sucesso internacional. De acordo com o release do cantor na época, "A música ''Vou rifar meu coração'' o projetou efetivamente no cenário mundial, e só no México recebeu mais de 50 gravações.

O LP gravado em espanhol lhe proporcionou sucessos em mais de 50 países". E segundo o departamento de imprensa da RCA em 1976, "o sucesso de Lindomar Castilho hoje nos países latino-americanos e no mercado latino dos Estados Unidos é uma realidade indiscutível, chegando, em alguns casos a obter índices de vendagem difíceis de serem conseguidos até por grandes astros dos próprios países, como foi o caso do México, quando do lançamento do compacto-simples “Voy a rifar mi corazón” (Eu vou rifar meu coração) vendeu nada menos de 78 mil cópias só na semana de lançamento.

Logo depois, quando foi lançado o LP “Eres loca de verdade” (Você é doida demais), no mercado latino dos Estados Unidos, foi necessária uma importação de álbuns do México, para reposição imediata, em função do alto número de pedidos conseguidos em todo o território americano, muitas vezes maior que os LPs que havia em estoque".

Um de seus maiores sucessos, "Você é doida demais", composto com seu parceiro mais constante, Ronaldo Adriano, conduziu o álbum “Eu canto o que o povo quer”, que ganhou versão para o mercado latino.

Na RCA gravou músicas de grande repercussão como "Oi sô", "Feiticeira", "O invejoso", "Minha Mãe, Minha Heroína", "Nós Somos Dois Sem-vergonha", "Camas Separadas", "Cheguei Prá Ver", "Adeus Mariana", "Rei Sem Trono", "Eu Não Sou Nenhum Bandido", "Mais Um Cigarro Fumado", "Sul Brasileiro", "O Troco", "Tema da Tarde", "Homem de Pedra" e "Eu e a Viola".

Consagrado pela famosa revista americana Billboard como o "El nuevo ídolo de las Américas", o cantor representou em 1977 o Brasil como campeão de vendas de discos no programa Coast to Coast, da televisão americana, em San Francisco, Califórnia. (ITALO FÁBIO CASCIOLA)

FONTE: Com informações e imagens da gravadora RCA Victor

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