Trilha Da Historia
O INCRÍVEL ZÉ DO PRATO ERA O REI DOS RODEIOS!
Nestes 50 anos passaram pela Expo Umuarama, desde que era Exapiu, artistas inimitáveis e com talentos incríveis que conquistavam milhares de admiradores por todos os lugares onde mostravam seus dons artísticos...
Um desses gênios foi Zé do Prato, considerado o maior locutor de rodeios de todos os tempos e um dos mais requisitados pelas feiras agropecuárias em todo Brasil.
Ele foi uma das maiores atrações da primeira edição da nossa feira, em fevereiro de 1974, brilhando na arena do Parque de Exposições durante a semana inteira correndo em ritmo adoidado em todas as direções daquele espaço (que na época era gramado, hoje é arenoso) acompanhando os peões e comandando as montarias com sua estrondosa voz. O povo delirou, os peões comemoravam o ‘show’...
É impossível esquecer de sua passagem pela arena da Expo Umuarama, quando com sua estrondosa voz, gritava ao microfone a expressão "Seguuuura, Peãããão!" criada por ele, com a qual dava garra aos peões e animava o público.
Essa era a que mais retumbava nos ouvidos da multidão, mas tinha outras frases de efeito para motivar os peões nas arenas e o público nas arquibancadas. Mas o início do espetáculo foi bem estilo gospel, fazendo a abertura com a oração da Ave Maria emocionando o público presente. Em seguida dedicou versos improvisados dando um tom especial para transmitir calma e paz.
O Zé do Prato acompanhado pela equipe de peões começou o espetáculo, em meio a uma forte barulheira que misturava as frases do locutor, o galopar dos animais e muita música em alto volume. Ele corria, gritava, os peões saltitavam nas selas em cima dos touros bravos e abanavam seus grandes chapéus estilosos de boiadeiros, enfim, unidos estremeciam a arenas e a plateia arregalava os olhos e gritava também festejando a farra... Muita gente nunca havia assistido rodeios e estava perplexa com o que estava vendo!
A estrutura de rodeio naquela época era bem simples e não tinha a tecnologia de som que existe hoje. Na falta de recursos tecnológicos, ele andava com um gravador de fita K-7 a tiracolo, um arcaico microfone e duas cornetas, que durante as apresentações de rodeio eram improvisadas ao redor da arena.
Tinha uma gravação retumbante que ele usava quando gritava “Seguuuuuura, Peão!!!”. E os peões davam gritos de euforia fazendo um coral trovejante...
O MISTERIOSO APELIDO
A maioria do público ficava curiosa em saber o significado do apelido “Zé do Prato”, afinal ele nunca tinha vindo a Umuarama e nem a imprensa e os organizadores sabiam...
Depois do rodeio, o locutor famosão saiu correndo da arena levantando os braços e dando tchau para os fãs, que repetiam os gestos e gritavam seu apelido... E seguiu direto para um boteko próximo à arena, onde se acomodou numa mesa num cantinho no fundo. E já foram servindo água gelada, pois ele gritava que estava morrendo de sede depois de duas horas gritando no rodeio!
Cheguei devagar, cumprimentei-o e ele sorridente e simpático colocou meio de leve seu chapéu na minha cabeça. “Depois devolve, tá?” – avisou rindo...
De cara fui perguntando o significado do apelido! Ele gargalhou e se acomodou, tomou meio litro d’água e foi dizendo que "Zé do Prato" surgiu quando fazia parte da fanfarra do grupo escolar Professor José Domiciano Nogueira, de onde era estudante, localizado em sua cidade natal Regente Feijó, por volta de 1960, onde tocava somente o instrumento prato.
Acrescentou que poucas vezes havia sido questionado sobre isso... “Pensavam que era porque eu adorava comer bem e andava com o prato cheio na mão!”. E gargalhou bem ao seu estilo gritante. E mandou mais um copo de água gelada goela abaixo... Detalhe: Durante o bate-papo inteiro não pediu uma gota sequer de bebida alcoólica.
LOCUÇÃO DE RODEIO EM ESTILO DE FUTEBOL
Sobre seu sucesso como locutor com um estilo completamente diferente de todos os locutores da época, Zé do Prato me contou que revolucionou a narração de rodeio no Brasil. inspirado na locução esportiva, inovando ao usar bordões como o famoso “Seguuuuura, Peão!” como faziam os locutores de rádio durante os jogos de futebol, dando uma entonação de voz cantada e usando bordões nas narrações.
Isso era na época em que havia poucos locutores e era uma outra forma de narração de rodeio, só falada em ritmo até meio calmo que não combinava com as montarias que eram tremendamente agitadas!
Também criou o “Boa Noiteeee” para encerrar os espetáculos de montarias. Mas ele repetia as duas palavras várias vezes para fazer graça e só parava quando os peões e os touros sumiam da arena...
Fez questão de pedir para que eu publicasse o detalhe que ele começou a narrar rodeios da Companhia Marca Estrela, com a qual veio para a Exapiu!
Outro detalhe característico do Zé do Prato era sua elegância, sempre andando com roupas de finas grifes e cores vibrantes, preferindo o vermelho, amarelo e azul. “Meu estilo é estilo caipira, country, cultural. Me sinto um galã sim, vestir bem sempre foi minha alegria. E não podem faltar os grandes e belos chapéus (tirou o que havia colocado na minha cabeça e mostrou a etiqueta interna: era americano!).
Depois dessa simpática conversa, pediu uma Coca-Cola para mim e um suco para ele. Nos despedimos com um forte abraço. Devolvi o chapeuzão e ele riu em alto e bom som! “Até a próxima”, disse ele. E Zé do Prato, cumprindo a promessa, voltou várias vezes pois os organizadores comemoraram o sucesso de sua apresentação e, principalmente, porque o Parque de Exposições estava lotado!!! E foi contratado novamente nos anos seguintes. (ITALO FÁBIO CASCIOLA)
