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NA TRILHA DA HISTÓRIA
O ‘Balança mas não cai’ foi o prédio mais alto de Umuarama
Tinha apenas 3 andares e era ‘atração turística’ da época...
Publicado em 10/01/2023 às 20:05 Ítalo
O ‘Balança mas não cai’ foi o prédio mais alto de Umuarama

O prédio caiu um dia, demolido para dar lugar a empreendimento mais moderno e os valores dos imóveis ao seu lado e ao redor da maior praça de Umuarama dispararam numa velocidade astronômica.

O edifício ai qual me refiro é o ‘Balança Mas Não Cai’, construído no início da década de 1960 e, detalhe, era de cimento, ferro e tijolos enquanto que a maioria das construções residenciais e comerciais era de madeira.

Ele foi apelidado pela população de ‘Balança Mas Não Cai’ em referencia à fama do prédio que a Rádio Nacional criou, nos anos 50, onde acontecia o programa humorístico “Balança Mas Não Cai”, em que todos os personagens viviam no mesmo endereço e aprontavam muitas confusões, divertindo os ouvintes. E também sugeria a piada, pelo tipo de construção erguida num terreno com forte queda para um dos lados em virtude do contorno da praça Santos Dumont.

Mas no prédio de Umuarama acontecia justamente o oposto com relação aos seus habitantes: era um lugar que reunia alguns advogados, corretores que vendiam terras e gente de outros ramos. Gente trabalhadora e de respeito que vieram para ajudar a construir o desenvolvimento desta Umuarama então em franca disparada da colonização.

Conforme seus negócios cresciam, o espaço ia sendo reduzido e eles mudavam para outros lugares. E novos habitantes chegavam, afinal, eram salas cobiçadas “no coração da cidade”.

Tinha dez salas por andar, cinco de cada lado e no meio um estreito corredor e um banheiro coletivo. Na entrada, em baixo, um pequeno painel de madeira, com plaquinhas metálicas indicando quem trabalhava nos 3 andares de cima, facilitando a localizado e evitando que o visitante errasse de andar, porque isso não era muito agradável depois de uma ‘sofrência’ escalando aquela escadaria braba!

BALANÇANDO NO FRÁGIL ARENITO CAIUÁ

Mas havia quem garantisse que não havia a menor graça no apelido, pelo contrário, ele se era um tipo de elogio aos construtores da obra que desafiaram a fragilidade do arenito caiuá, tipo de nosso solo, e contrariando a antiga crendice, que virou lenda urbana corrente, de que por causa desse problema Umuarama não suportava construções além do térreo. Que se alguém se aventurasse a fazer um prédio, ele poderia ruir...

Não faltavam os fofoqueiros que espalhavam invencionices pelos botecos dizendo que a cada ano ele cedia 3 centímetros do lado de baixo (Avenida Brasil).

CUIDADO PARA NÃO TROPEÇAR NA ESCADA...

A escadaria que existia, ligando o térreo ao primeiro, segundo e terceiro pavimentos, era íngreme, tipo antiga, com degraus altos ou curtos. Ou seja, isso dificultava a subida.

E, pior, tornava-a até perigosa, pois o habitante ou visitante do prédio tinha que dar cada passo olhando para os degraus, evitando tropeçar e quebrar o nariz... Os riscos se repetiam na volta ao descer pra rua...

Aliás, esse era o conselho que todos davam quando alguém entrava na porta do prédio para ir a algum escritório lá em cima.

“Vai com calma e olho vivo para não tropeçar na escada...”, era o aviso, em tom de brincadeira. Mas, na verdade, era algo para encarar com seriedade. Não foram poucos os que ralaram joelhos e bateram cabeças naquele sobe-e-desce.

Na verdade, o “Balança Mas Não Cai” de Umuarama não tinha nada de especial, sem atrativos, era comum, com linhas arquitetônicas simples, tudo para economizar na construção. Num quesito era único: ele se sobressaía porque mais alto que as demais construções que existiam na cidade da época, que eram de madeira – táboas de peroba – e pela sua altura, o triplo das outras do comércio que se espalhava ao longo da Avenida Paraná, no sentido Praça Santos Dumont à Praça Arthur Thomas (no trecho entre a Santos Dumont e a área vazia onde seria construída a Estação Rodoviária, rareavam as edificações.

Só mesmo depois é que ergueram o portentoso Cine Umuarama que, vamos combinar, era uma das mais modernas casas de cinema do interior do Paraná e, claro, na nossa geografia urbana era um gigaaante...

O ‘Balança...’ também atraía a atenção pela sua cor, na maior parte verde, e suas janelinhas de vidros com armações de ferro pintadas de marrom vivo. Não eram grandes, e permaneciam a maior parte abertas, para refrescar as salas, que também não eram tão espaçosas assim. No verão, suas paredes viviam em brasa por causa do forte calor. Há quem deixava baldes cheios de água para umidificar o ambiente, que entre meio-dia e 15 horas era realmente sufocante.

Mas, quando a brisa entrava pelas janelas abertas e circulava pelos corredores, o ambiente era agradável, bem fresquinho. O piso do prédio era de tacos, amarelos e bem encerados. As portas marrons e pesadas, de madeira de lei. Um porém: como na época não havia energia elétrica por aqui ainda, depois das 17 horas a claridade baixava.

Muitos que trabalhavam à noite, apelavam para, primeiro, instalar lampiões a querosene, e depois, os mais modernos a gás... Mas quando chegou a Copel na cidade esse problema acabou. Os banheiros eram, vamos dizer, bem pequenos, parecendo aqueles de ônibus ou avião. Seus usuários não demoravam muito neles, para não suar em bicas.

Embaixo, uma loja de móveis de quatro portas, muito movimentada nos primeiros tempos.

Mas, o melhor de tudo, o mais bonito e o mais prazeroso era ver a cidade nos seus primeiros tempos do alto das janelas do “Balança Mas Não Cai”. Muita gente entrava no prédio só para desfrutar desse “momento turístico” e curtir o belo cenário da Avenida Paraná, os telhados, bem vermelhos e novos, das casas e do comércio. Dava para se ver nitidamente também quando algum carro vinha descendo veloz: subia uma nuvem de pó... Não se via quem era, mas o poeirão denunciava um motorista apressado morro abaixo...

De lá de cima dava para ver outra imagem, esta nem um pouco agradável: quando chovia demais, se formava uma verdadeira laguna de água e lama naquele “Baixadão” da Avenida Paraná, no quarteirão entre a Rua Ney Braga e a Praça Santos Dumont. Feio mesmo. E depois de um dia ou mais de sol, aquilo fedia e o mau cheiro se espalhava. O jeito era a vizinhança ali fechar as janelas.

Também era bacana ver o movimento na Praça Santos Dumont, ainda novinha. Cultuava-se naquele tempo dar um rolézinho na praça. Eram grupos de gente batendo papo, caminhando, crianças brincando... Era um ponto de encontro feliz, em que todo mundo se conhecia e todo mundo se reencontrava sempre.

Quando havia algum evento na praça, as janelas do “Balança Mas Não Cai” viravam tribunas de camarotes vips. Os privilegiados habitantes tinham uma visão panorâmica exclusiva. Principalmente nos tempos dos grandes comícios. Ou cantorias caipiras.

Parece mentira tudo isso que conto, mas é a realidade que vivi. O prédio era um símbolo. Um ícone, como costumam agregar valor hoje a uma figura histórica de expressão.

Acreditem, muitas pessoas que moravam na roça, quando vinham a Umuarama fazer compras, paravam em frente para admirar a construção. Bobagem? Não, apenas curiosidade das pessoas simples e que viviam na zona rural onde a civilização ainda demoraria um bom tempo para chegar.

Muita gente naquele tempo não viajava para cidades grandes, como agora, portanto, não tinha convivência com aqueles edifícios na época inteligentemente batizados de “arranha-céus”. E ver um “Balança Mas Não Cai” aqui já era uma façanha e muito assunto para contar quando voltava para a fazenda ou sítio.

Hoje tem prédios por todos os lados e ninguém tem mais tempo para observar palmo a palmo as linhas da arquitetura moderna e arrojada.

Mas no passado, as pessoas eram mais atentas ao ponto de admirar até aqueles recortes que carpinteiros faziam em casas de tábuas, enfeitando a entradas das moradias.

É isso, quem conta a História, faz parte da História. (ITALO FÁBIO CASCIOLA)

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O ‘Balança mas não cai’ marcou o início da construção civil em alvenaria – antes disso residências e casas comerciais eram feitas de madeira de peroba. Reparem no detalhe – operários fazendo a calçada e no alto ainda estavam sendo colocadas janelas...

Observem no lado direito da hoje Praça Santos Dumont, que naquela época ainda era a Praça das Perobas, o prédio ‘Balança mas não cai’ se destaca solitário na topografia daquela área central da antiga Umuarama...

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