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NA TRILHA DA HISTÓRIA
Sonho destruído: a ferrovia passaria pelo centro de Umuarama
Confira nos mapas o roteiro por onde passaria o trem...
Publicado em 30/11/2022 às 10:20 Ítalo
Sonho destruído: a ferrovia passaria pelo centro de Umuarama

Quando o trem da Estrada de Ferro Noroeste do Paraná chegou à estação da vizinha Cianorte, em 1975, a comemoração por essa conquista histórica fez eco retumbante aqui em Umuarama, apenas 80 quilômetros distante.

A festa dos cianortenses acendeu a esperança da população sentindo que estava próxima a nossa vez, afinal o projeto da continuação da estrada estava pronto e todo o trecho entre Cianorte e Guaíra devidamente vistoriado pela equipe precursora do Ministério dos Transportes, que havia dado o sinal verde para que os trilhos continuassem cortando território afora em direção à fronteira do Paraguai.

Como manda a tradição, os políticos de plantão, tanto de Umuarama como de alhures, assim que aconteceu a inauguração da estação de Cianorte prontamente se puseram a trombetear que no máximo em dois anos locomotivas e vagões começariam a chegar por aqui. Montaram palanques para anunciar aos quatro ventos que em 1977, ou no máximo 78, seria a vez de Umuarama festejar...

PROMESSAS HISTÓRICAS

Como se vê, não é de hoje que se promete, se ilude e não se cumprem as promessas eleitoreiras. Os políticos da época juravam que estava tudo decidido e que a Estrada de Ferro Noroeste do Paraná era conquista garantida.

Como continua acontecendo nos dias atuais, os antigos politiqueiros apenas se esqueceram do detalhe mais importante: não combinaram nada com o governo federal, que é quem decidia – e continua decidindo – as prioridades. Esqueceram ainda que, no poder central gravitam os burocratas e os tecnocratas, aqueles elementos anônimos do sistema, que continuam eternos em cargos públicos enquanto os governantes do poder central vão passando a cada eleição.

Pois foram justamente essas “forças ocultas” que, de repente, anunciaram que o projeto da continuidade da obra da Estrada de Ferro Noroeste do Paraná havia sido arquivado. E, pior do que isso, o governo federal de então havia dado preferência à Ferrovia do Oeste, ou Ferrovia da Soja, ligando Cascavel ao Porto de Paranaguá.

PROJETO VIROU FUMAÇA...

Numa martelada só, o projeto primitivo entre Cianorte e Guaíra virou fumaça. E não se falou mais nisso, a não ser agora, em que os políticos contemporâneos descobriram que essa ferrovia por décadas interminada e esquecida, seria ótimo mote de caça aos votos... A grande verdade, que naquele tempo não foi ouvida e que hoje ninguém quer ouvir, é que enquanto não houver lideranças verdadeiramente fortes, influentes e decididas, essa história vai rolar por muito tempo. Na década de 1970, não existiam líderes com trânsito livre pelos corredores palacianos de Brasília, tanto é que as atenções dos governantes da época se voltaram para Cascavel, para a Ferrovia da Soja.

Assim que soube que o governo federal não mais executaria a prometida obra e que o ponto final seria mesmo Cianorte, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná apressou-se em proceder a limpeza de uma vasta área em forma de faixa que atravessava um dos pontos mais nobres do centro de Umuarama (ver explicativos nas fotos).

LONGO ESPAÇO RESERVADO NA CIDADE PARA A FERROVIA FOI VENDIDO

Segundo este repórter apurou na época junto à CMNP, eram 159.750 metros quadrados para a passagem da ferrovia e mais 176 mil metros quadrados para o pátio da estação ferroviária, em frente ao Bosque Uirapuru e ao Umuarama Country Club. Esse vasto terreno a colonizadora CMNP o havia reservado desde quando projetou Umuarama, em 1953.

Ato seguinte, a CMNP iniciou a campanha de vendas desses lotes em toda a extensão da reserva. Eram dezenas de quarteirões, que foram disputados freneticamente pelos compradores e, em menos de um ano, estavam todos vendidos! Nos terrenos próximos ao centro da cidade, as construções começaram a surgir imediatamente, pois eram investimento seguro e de rápida valorização.

O único espaço que não foi colocado à venda era aquele ocupado pelo pátio da Prefeitura, onde funcionaram até pouco tempo as secretarias municipais de serviços públicos e rodoviários, incluindo as garagens das máquinas usadas na abertura e preservação de estradas vicinais, que até hoje não são asfaltadas.

Quem investiu na época nesse “loteamento” central, se deu bem e hoje essas propriedades valem verdadeiras fortunas e cada vez valorizam mais diante da voracidade do mercado imobiliário.

ESTRADA DE FERRO, HOJE UM SONHO IMPOSSÍVEL

A pergunta que neste momento não quer calar: vamos imaginar que se hoje o governo federal fosse convencido, a dar continuidade ao projeto (que agora deve estar defasado pela força do longo tempo passado) da Estrada Noroeste do Paraná interrompido lá em 1975, onde seriam construídas a estação de passageiros e o terminal de carga e descarga de trens?

Certamente, uma área desse porte (com mais de 300 mil metros quadrados, como era a que citamos em parágrafo anterior), atualmente deve valer cifras estratosféricas, mesmo que esse terreno esteja localizado fora da geografia urbana, a quilômetros do centro de Umuarama. Quem iria arcar com essa responsabilidade? A Prefeitura ou o governo federal?

A questão é impertinente, mas perfeitamente oportuna de ser esclarecida: para o antigo projeto, a colonizadora CMNP doou aquele espaço sob comodato, exclusivamente reservado para a estação e o pátio ferroviário. Como não chegou o trem, a área automaticamente foi revertida em favor da CMNP.

E, agora, de quem seria essa mão abençoada e generosa a pagar pelo terreno, pois sem ele o sonho da ferrovia volta à estaca zero, não existe, não passa de um pesadelo que só interessa à politicagem...

A conclusão é que Umuarama – e as cidades no percurso até Guaíra -, ficou sem um dos mais poderosos e econômicos meios de transporte já criados pelo homem: o trem. Se tivesse contado com esse benefício, a Capital da Amizade seria muito mais desenvolvida do que é atualmente e, isso teria acontecido décadas antes. Transportes da produção agropecuária ou viagens de nossa população vão continuar dependendo dos caminhões, busões e jatões, muito mais caros, é claro. E tenham um feliz domingo e boa sorte! (ITALO FÁBIO CASCIOLA)

Entrada da ferrovia em Umuarama, vinda de Cianorte; 2) Estádio “Gigante da Baixada”; 3) Bosque Uirapuru; 4) Tiro de Guerra e, a seguir, SESC.

Praça Tamoio; 2) Estação Rodoviária; 3) Umuarama Country Club; 4) Bosque Uirapuru; 5) Entrada de Umuarama; 6) Avenida Paraná.

Bosque Uirapuru; 2) Country Club; 3) Praça Santos Dumont; 4) Avenida Paraná; 5) Bosque dos Xetá; 6) Atual Centro Cívico.

Linha pontilhada cerca a antiga área reservada para a Estrada de Ferro Noroeste do Paraná; na foto, toda a faixa, no centro de Umuarama, está completamente ocupada e essas propriedades valem ouro para o mercado imobiliário.

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