Trilha Da Historia
O calote do século! Umuarama ainda sonha com a ferrovia...
Já passei dos 60 anos e há um bom tempo ultrapassei a barreira da idade da razão. Isso me ensinou a ver a realidade com outros olhos, mais desconfiados e menos piegas, e sentir o que está à minha volta com tato de gato escaldado, afinal, certa dose de dúvida sobre isso e aquilo não faz mal à ninguém.
Especialmente quando se trata de política e de políticos, assunto cada vez mais vital no cotidiano de todos os simples mortais, mas que incomoda – e muito! – a ‘tchurma’ do “faz de conta” da política quando os comentários não lhes apetecem e isso invariavelmente, retorna na forma de aborrecimentos e caneladas a quem escreve a História, opina e está sujeito a pressões de toda espécie por parte dos senhores ‘intocáveis’ de plantão... (Digo de plantão porque, graças à Justiça divina, eles passam!)
Porém, prefiro isso a manter-me na zona do conforto da omissão e do “não tenho nada com isso”, hoje (também!) tão em moda que a conveniência chega a parecer virtude para alguns menos avisados e menos vividos.
Mas não é a política em si que incomoda a este repórter, mas a politicagem que empesteia essa arte milenar. Seu domínio é tão implacável que transformou uma das mais belas ciências em sinônimo de vergonha, num ofício em que uma minoria vive a enganar uma maioria de analfabetos políticos o tempo inteiro.
A politicagem transformou a utopia, um simpático sentimento poético de sonhar tão cantado em versos e prosa pelos arlequins e menestréis ao longo da história universal, num escárnio.
Mentir e fazer falsas promessas passou a ser “normal”, a “fazer parte do contexto”, regra e mandamento na cartilha maquiavélica da caça ao voto e a ludibriar os eleitores ignorantes ou inocentes. E a destruir sonhos...
Cheguei a Umuarama na aurora da minha infância, tinha apenas 4 anos de vida. Aprendi tudo o que sei aqui, a falar, a ler, a escrever, inclusive a pensar e a andar com as minhas próprias pernas. E desde aqueles idos do final da década de 50 venho sendo bombardeado, assim como milhares de outros mortais como eu que vivem aqui desde que este rincão era chamado de Norte Novíssimo (pasmem, chamaram-no erroneamente até de “Oeste do Paraná”, pode?!), a última fronteira nova fronteira agrícola brasileira, por discursos demagógicos que desde então ecoam pelas esquinas, palanques eleitorais (agora eletrônicos e virtuais) e pelas páginas da mídia escrita, tanto da alienada como da ‘chapa branca’.
Aqueles que têm boa fé nos seus deveres e direitos e que amam esta terra onde nasceram ou que a adotaram como sua morada definitiva, têm consciência de que Umuarama e o Noroeste só não experimentaram mais cedo o desenvolvimento por uma única razão: a politicagem que desde o passado assola a nossa gente e ‘atravanca o progresso’.
A prosperidade que existe se deve unicamente à garra e ao labor da legião trabalhadora. “Muitos políticos ajudam muito quando não metem o bedelho para atrapalhar o progresso”, já dizia um velho adágio popular...
Mas, para o desespero da maioria, eles se metem em todos os cantos mesmo não sendo convidados e nem bem-vindos.
Se algum deles ousasse contestar esta afirmativa, tenho eu uma longa série de exemplos nefastos para provar a minha queixa, que se soma a de uma multidão de outros paranaenses que habitam as cidades plantadas aqui neste território.
Afinal, desde aqueles tempos já distantes até os de um período recentíssimo, aconteceram tantos fatos que, se omisso fosse, preferia esquecer e varrê-los para debaixo do tapete, como muitos resignados e bajuladores preferem fazê-lo.
Afinal, expor certas opiniões e verdades (repito: todas documentadas em notícias estampadas nas páginas de jornais ao longo dos anos!) geralmente se chocam com os interesses dos supostos ‘donos do poder’ (passageiro) e seus áulicos, que acreditam que as oligarquias são eternas e intocáveis. Até o poderoso e longevo Império Romano, que julgava assim, desmoronou. Acabou em ruínas...
Certamente o amigo leitor e a amiga leitora estão se perguntando com pressa: “Mas, afinal, do que ele está falando/escrevendo?”.
Então, sem o mínimo desejo de fazer mistério e para ser bem preciso, cirúrgico diria, vamos citar talvez o maior de todos os exemplos desse extenso ABC de maldades e falsidades cometidas pelos algozes desta história contra o nosso desenvolvimento, desde a época em que os “caçadores de votos” preferiam chamá-lo de “progresso”...
É a esquecida Estrada de Ferro do Noroeste – bem que poderíamos chamá-la de Ferrovia do Arenito Caiuá (outra praga que nos castiga desde a era da fundação e colonização). Ela foi idealizada no século passado para ligar os estados de São Paulo e Paraná ao Paraguai e, quiçá tivesse sido concluído o mirabolante projeto antigo, ao Oceano Pacífico, atravessando a majestosa e encantada Cordilheira dos Andes...
A história dessa obra é tão longa que se fosse escrevê-la, detalhe por detalhe em páginas coladas uma a outra, certamente daria volta ao planeta inúmeras vezes. De tão remota, é absurdamente inacreditável a tal ferrovia não estar pronta, com o trem passando por aqui por Umuarama, até hoje!
É por isso que batizei as reportagens desta série como “O CALOTE DO SÉCULO”. Nos próximos domingos vocês verão aqui que a aventura sem fim (no sentido de inacabada, frustrada) que é essa tal ferrovia que ninguém viu, ninguém vê e nem verá... Aí sim você vai reclamar com razão do preço alto da gasolina, dos buracos e dos perigos nas rodovias, dos produtos caros que circulam graças aos transportes rodoviários! (ITALO FÁBIO CASCIOLA)
A tão sonhada ferrovia ligando São Paulo ao Paraguai, somente chegou à vizinha Cianorte em 1973, vinte anos após sua fundação e como ponta de linha, que deveria continuar até Umuarama, mas isso jamais aconteceu. Na imagem, os cianortenses rodeiam a primeira locomotiva apitando ao entrar na cidade; já se passaram mais de 40 anos!
Os mais antigos de Umuarama, desbravadores ou pioneiros, devem lembrar bem disso: esta cidade foi aberta e milhares de alqueires foram vendidos sob a promessa de que seria construída uma estrada de ferro para facilitar o escoamento das produções agrícolas – principalmente o café! – para os grandes centros exportadores.