Trilha Da Historia
Com quase 70 anos, Umuarama ainda não possui Museu Histórico
Nos últimos vinte anos tornou-se habitual ver na mídia e nos grandes sites de notícias rankings de diversos setores da economia brasileira e da economia paranaense que Umuarama ocupa posições dignas de louvor.
É indiscutível frisar que a Capital da Amizade vem respirando um clima de sólido desenvolvimento antes nunca visto desde a sua remota fundação, em 1955. A nossa gente, orgulhosa, pode repetir que aqui tem de tudo e que as perspectivas são de que esse panorama otimista vai melhorar ainda mais.
Porém, apesar dessa efervescente euforia, é preciso firmar os pés no chão e meditar que ainda há muita coisa por fazer para que Umuarama seja uma cidade realmente preparada para o futuro...
Uma dessas lacunas se encontra no setor da cultura-educação, apesar que nos últimos tempos temos observado um florescimento admirável de movimentos culturais e de talentos artísticos apoiados pelo governo municipal, através da Fundação Cultural. Um trabalho precioso sem similar em administrações do passado.
Mas, o grande vazio que insiste em perdurar, que parece nunca ter fim, é com relação a História do município, a memória de sua gente amiga e trabalhadora. Nesse quesito, usando de máxima franqueza, Umuarama deixa muito a desejar. Simplesmente esse assunto é completamente ignorado, desprezado diria, pelos políticos-administradores que passaram pelo Paço da Amizade.
Causa até um certo desconforto ver que cidades vizinhas, muito menores que Umuarama, há muito tempo possuem museus em plena atividade. Vale citar exemplos como Cruzeiro do Oeste, Guaíra, Campo Mourão, Cianorte, Toledo. E, para dar água na boca, digo que Maringá possui mais de dez!!!
TEMOS DE TUDO, MENOS UM MUSEU...
Estou me referindo a criação oficial do MUSEU HISTÓRICO DE UMUARAMA. Recentemente até houve preparativos de uma estrutura preliminar para a instalação desse órgão nas dependências do Centro Cultural, mas era fim de administração e o projeto foi literalmente engavetado.
Também já aconteceram muitas promessas de políticos de dar atenção a esse importante assunto, mas, como eu disse, eram promessas em tempo de maratona eleitoral atrás de votos. Também já se tocou no assunto em junhos passados em épocas festivas comemorando o aniversário de fundação da cidade, 26 de Junho.
FONTE PARA AS NOVAS GERAÇÕES
Testemunha eu sou de uma legião de professores e estudantes que surtam diante da barreira de dificuldades que encontram para garimpar informações e documentos históricos de Umuarama para preparar monografias e trabalhos acadêmicos.
Eu, pessoalmente, há muito tempo desisti em procurar em órgãos públicos esse tipo de material. Sempre ouvi que essas repartições não tem ninguém com tempo disponível para apurar dados; outras, nem sequer tem acervos. Tudo se perdeu no tempo no decorrer das décadas.
No início dos anos 1980, então assinando coluna diária no extinto jornal ‘A Tribuna do Povo’, lancei uma campanha em prol da criação de um Centro Cultural – onde seria reservado amplo espaço para o tão sonhado Museu Histórico. A ideia repercutiu fortemente, principalmente entre professores das escolas municipais e estaduais do município – inclusive houve palestras sobre os diversos artigos que escrevi na Unipar, ministradas pelos cursos de Arquitetura e Urbanismo e História.
Naquelas reportagens antigas sugeri que a colonizadora Companhia Melhoramentos Norte do Paraná doasse uma parte do imóvel que cedia por comodato ao município, ocupado durante 20 anos pela Prefeitura, lá na esquina da Rua Arapongas esquina com Avenida Maringá, em pleno centrão da urbe.
Naquele espaço, onde funcionaram o antigo gabinete do prefeito, sala e antessala de recepção e de muitas salas do setor contábil, comunicação e outras, sugeri que poderiam construir o Museu Histórico, afinal aquela área de meio quarteirão tinha espaço suficiente para a obra.
A sugestão poderia ter sido adotada quando a sede do Poder Executivo se mudou em 1981 para o atual Paço da Amizade, no Centro Cívico. Mas, assim que aconteceu a mudança, a colonizadora rapidamente colocou a venda o amplo terreno. E, claro, por se tratar de um imóvel valioso no coração da cidade, foi comprado numa velocidade de relâmpago... E assim rodou por escada abaixo uma oportunidade do Museu Histórico se tornar realidade.
A CONSTRUÇÃO DO MAJESTOSO CENTRO CULTURAL
Em 1985, aconteceu a retumbante eleição do prefeito Antonio Romero Filho, que depois consagrou-se como um dos maiores administradores na História da Capital da Amizade.
Em sua campanha, ‘Romerão’, como era chamado pelo eleitorado, prometeu nos palanques de seus comícios, com a minha coluna em punho mostrando-a para as plateias, que realizaria essa grande obra durante seu mandato. E cumpriu a promessa!!! Entregou o belo e moderno Centro Cultural causando alegria a comunidade, prova disso é que até hoje ‘Romerão’ é lembrado como um administrador de primeira grandeza.
Vale registrar em alto relevo que da planta (mapa, projeto) do arrojado Centro Cultural consta um grande espaço onde deveria estar funcionando desde aquela data o Museu Histórico de Umuarama. Ele fica em frente a entrada para o auditório do grande teatro, mas nunca foi ocupado para a finalidade que foi construído. Ou seja, o Museu ‘foi construído’ mas ele ‘nunca existiu...’. Só mesmo em Umuarama acontecem absurdos dessa natureza...
Num gesto de profunda gratidão devo registrar que o prefeito Antonio Romero Filho e a Camara de Vereadores me homenagearam concedendo-me com a maior e mais bela honraria do município, o Título de Cidadão Honorário da nossa amada Capital da Amizade, por que fui o autor da ideia de edificar o Centro Cultural-Museu Histórico, obra monumental que o Poder Executivo construiu para a posteridade no Centro Cívico.
MAS DEPOIS ‘ESQUECERAM’ DO MUSEU...
Após a inauguração memorável do Centro Cultural é que acontece a maior maldade com a cultura e a História da cidade e de sua gente. Depois que ‘Romerão’ cumpriu seu brilhante mandato, os prefeitos que vieram a seguir simplesmente enterraram numa gaveta qualquer o projeto operacional do museu. Ou seja, a sequencia exigida pela museologia não foi cumprida, como instalação de móveis e vitrines apropriados para acomodar peças históricas, documentos, fotografias, filmes, quadros, revistas e jornais antigos...
Nem sequer lembraram de formar uma equipe que organizaria e administraria o museu. A realidade que incomoda é que aquele espaço há décadas vem sendo usado para outras finalidades, menos a de preservar a memória de Umuarama, justamente o motivo para o qual foi projetado.
Outro detalhe amargo de toda essa história é que sempre que surgem doações de populares, esse acervo vem sendo amontoado pelos cantos do Centro Cultural, numa verdadeira acumulação de velharias... E, para completar esse cenário depreciativo, quando acontecem eventos no Centro Cultural comemorando o aniversário da cidade, em 26 de Junho, ninguém se lembra de ativar o Museu Histórico...
E, por fim, como choramingo final, devo dizer que é muito difícil acreditar que um município desenvolvido como o nosso, com quase 70 anos de fundação, desconhece que a museologia deve fazer parte da vida cotidiana da comunidade, especialmente dos jovens que devem conhecer a História da cidade onde nasceram e vivem... (ITALO FÁBIO CASCIOLA)
Umuarama é hoje uma das mais importantes cidades paranaenses. Fundada em 1955, em breve completará 70 anos e transcorrido uma longa caminhada histórica. No entanto, curiosamente, ainda não possui um Museu Histórico...
A maioria das cidades aqui do Noroeste paranaense, situadas ao redor de Umuarama, possuem museus construídos e administrados pelas prefeituras. A imagem é do museu da vizinha Cruzeiro do Oeste, da qual Umuarama foi distrito num curto período pós-fundação.