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NA TRILHA DA HISTÓRIA (3)
Uma odisseia no meio do nada: a construção de Umuarama!
Topógrafos, engenheiros, operários e máquinas pesadas entraram em ação!!!
Publicado em 26/06/2021 às 12:03 Ítalo
Uma odisseia no meio do nada: a construção de Umuarama!

Logo depois de comprar estas terras de um grupo de proprietários, encabeçados pelo pioneiro Raimundo Durães, a colonizadora Cia. Melhoramentos preparou o projeto urbano e iniciou a construção de uma futura cidade “para 200 mil habitantes” (um dia chegaremos lá...).

Um projeto de colonização faraônico, totalizando mais de 500 mil alqueires, do qual germinaria o Norte Novíssimo polarizado por uma cidade que celebraria a amizade: Umuarama, a Capital da Amizade do Brasil!

A área a ser habitada já havia sido totalmente desmatada e só restavam cinzas de uma completa destruição do manto florestal que antes cobria o território. Em meio às cinzas, troncos de todos os tamanhos, carbonizados.

Prontamente chegaram as equipes precursoras da colonizadora: topógrafos, engenheiros, operários, máquinas pesadas e ferramentas para limpar o terreno. Corria o ano 1953, lentamente, mas os serviços andavam rápido: um verdadeiro exército atuava em várias frentes, para se encontrar num centro específico onde surgiria uma ‘praçoleta’ para concentrar os primeiros armazéns (mercados) e lojinhas. Ruas e avenidas estavam sendo abertas, deixando aflorar o arenito caiuá, antes escondido sob as raízes da floresta.

Espalhados ainda restavam milhares de toras de perobas, cedros, pau d’alhos, marfins, amoreiras, gurucaias, ingazeiros, araucárias e outras espécies, que estavam para ser retiradas e enviadas para as serrarias.

A colonizadora tinha pressa para vender os lotes urbanos e os troncos, rapidamente, depois foram desaparecendo. Em poucos meses, começaram a brotar matagais, ricos em ervas daninhas.

As vias públicas recém-abertas pareciam sulcos por entre aquela nova vegetação imprestável. A mais visível cortava a imensa clareira ao meio, hoje Avenida Paraná. Entre o verde, cintilava toda de amarelo meio descorado de areia, o arenito caiuá.

Conforme iam sendo vendidos os terrenos, os futuros habitantes começavam a erguer suas casinhas, todas de madeira, também amarelas, mas com tons rosados.

No começo, como eram poucas, saltavam aos olhos no meio de centenas de quarteirões abertos no lugar, circundados por matas que ainda rodeavam o espaço. Mas, elas, não resistiriam por muito tempo. E, assim que chegava mais gente, as árvores iam caindo a golpes de machado como havia ocorrido com as suas antecessoras...

Naquele início já distante, a pequena vila recém-aberta tinha dois acessos: um que vinha de Maringá, através da trilha reservada para a futura estrada de ferro (que acabou não sendo construída); e outro, rumo a Xambrê, outro lugarejo recém-nascido. De resto, a área ficava incomunicável...

É óbvio que era um tempo de absoluta solidão, um lugarejo melancólico criado no meio do nada, em completo estado primitivo com relação à comunicação com o mundo civilizado que existia a milhares de quilômetros.

Com muito sacrifício era possível chegar a Maringá e Londrina, mas estas cidades também não ofereciam nada digno de nota, pois igualmente estavam em fase de colonização. A civilização, repito, só era encontrada nas capitais a... mais de mil quilômetros! E as viagens eram absurdamente demoradas por terra, coisa de dias.

A única porta de entrada (e saída) era mesmo o primeiro aeroporto, com pista rudimentar, onde a toda hora aterrissavam e decolavam pequenos aviões (os ‘teco-tecos’), estes fretados por colonizadores afortunados e pelos compradores de terras vindos de grandes centros com ricas contas bancárias.

Na época, voar era privilégio de poucos. Mas era através desses aviõezinhos, também chamados de “Paulistinhas”, que chegavam remédios, instrumentos delicados para topógrafos e agrimensores que não podiam vir em hipótese alguma sacolejando por transporte térreo, e comida para os funcionários das equipes instaladas nos acampamentos da colonizadora.

Só no começo de 1954, depois que a trilha para a ‘futura estrada de ferro’ (uma promessa, um calote secular, pois até hoje ela não saiu do papel – e nem vai ser construída!!!) foi alargada é que começaram as “facilidades” para a passagem de caminhões, ônibus e jipes. Mesmo assim, era uma penúria: areia em tempo de sol e buracos cheios de lama no período das chuvas. É por ali que também começaram a chegar as centenas de famílias, vindas de todos os lugares do Brasil, à procura da terra promissora que brotava neste imenso sertão de meu Deus.

Vale recordar que era tanta gente chegando que, quando chovia e algum veículo encalhava, formavam-se “engarrafamentos” quilômétricos. Muitos montavam acampamentos à beira daquele caminho, à espera que a situação melhorasse para poder seguir viagem. Essas cenas são impensáveis nos dias atuais, portanto, ninguém pode imaginar o que os pioneiros sofreram para chegar...

No primeiro verão pós-abertura da clareira para a futura cidade, com o calor insuportável toda a área virou um verdadeiro inferno abrasador, pois não restou nenhuma árvore, apenas quilômetros quadrados de terra exposta ao sol. (Quem diria, antes reinava a sombra úmida e fresca da floresta...)

Quando chegaram o outono e o inverno, então, nova calamidade se abateu: aquelas ruas e avenidas recém-abertas pelas máquinas, transformaram-se em canais de barro nas descidas, lagoas nas baixadas. Com aquela água suja empossada por vários dias, é claro, o lugar ficava completamente coberto de nuvens de mosquitos sedentos por atacar quem aparecesse pela frente. (No passado existia a malária, hoje temos a dengue!)

Tudo o mais que foi acontecendo na sequência, relatarei nas crônicas em próximos livros de uma série que está sendo planejada, radiografando um passado repleto de aventuras e histórias que misturam saudade, alegria, tristeza, trabalho, heroísmo, fracasso e esperança, ingredientes indispensáveis para coreografar a tragicomédia humana que é a vida.

(ITALO FÁBIO CASCIOLA)

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