MITOMANIA
Mentir é uma doença muito grave!
A mentira pode ser entendida como um desvio de caráter e já foi tema de histórias infantis, como Pinóquio, e filmes hollywoodianos, como “O Grande Mentiroso” (2002), “ O Mentiroso” (1997), “O Preço de uma Verdade” (2003), “Esposa de Mentirinha” (2011). Ela sempre existiu desde os tempos remotos e está tão presente na rotina do mundo que até mereceu uma data especial: 1º de Abril, o Dia da Mentira! Você já deve ter ouvido alguém falar que mentira tem perna curta. Ou, então, que a pessoa mente tanto que nem sente... Esses são apenas alguns exemplos de ditados populares usados para definir os mentirosos de plantão. Mas, uma coisa é verdadeira e ninguém discute: em algum momento todo mundo recorre a mentirinhas para tornar uma conversa divertida, ou para passar um trote como brincadeira entre amigos. Mas a mentira se torna um problema sério quando este comportamento se torna um hábito e vira compulsão.
A psiquiatra Elaine Bida alerta para os riscos. “A mentira pode ser uma característica de várias doenças psiquiátricas, alguns transtornos de personalidade, e envolve muitas vezes questões de autoestima e insegurança”, aponta. Quando ela chega a esse ponto ela se caracteriza como MITOMANIA, ou mentira compulsiva, uma doença grave que exige tratamento psicológico. A mitomania foi conceituada em 1905 pelo médico e psiquiatra francês Ernest Dupré. A psicóloga Sarah Lopes, do Hapvida, explica que a mitomania é um distúrbio de personalidade onde o sujeito possui compulsão por mentira.
“Desde uma simples mentirinha até algo que possa ser considerado realmente grave. É como se fosse um transtorno obsessivo-compulsivo, entretanto, está voltado diretamente para a mentira. Frequentemente o sujeito leva vantagem com a mentira, mas o fato de enfeitar, ou mesmo inventar, tornou-se um hábito incontrolável”, completa.
“A mitomania pode ser desenvolvida ainda na infância, em alguns casos quando a criação é considerada muito rigorosa. “As crianças podem desenvolver um quadro de mentiras compulsivas sempre na tentativa de não ser punido por algo que se faça. Entretanto, devemos ressaltar que isto não é regra. Mas, como as crianças tendem a fazer uma travessura, com pais rigorosos, elas podem negar e isto tornar-se um hábito que perdurará na vida adulta”, esclarece a psicóloga.
O curioso é que o mitomaníaco nem sempre tem consciência de suas mentiras, e consegue acreditar nelas. “Ele está sempre justificando, mesmo quando é descoberto. Sua consciência em relação a essas mentiras é limitada”, alerta.
A especialista coloca que a mitomania pode ser tratada desde que o indivíduo esteja disposto a isso. “O tratamento é feito com base no sujeito começar a perceber a necessidade irreal das suas mentiras, ou seja, o sujeito deve perceber que quando mente, não há necessidade para tal, além disso, é feito um acompanhamento também como é realizado nos casos de transtorno obsessivo-compulsivo, fazendo com que o indivíduo perceba as causas e consequências de seus atos. Para isto é preciso que a família perceba e pontue de forma objetiva o que já percebeu para que ele se dê conta do prejuízo que causa para si e para os outros”, lembra Sarah Lopes.
MITOMANIA GERA PROBLEMAS SÉRIOS
Se o mentiroso crônico não procura ajuda especializada para iniciar um tratamento, as consequências do seu transtorno podem se agravar, gerando problemas sérios para a sua vida pessoal. O primeiro impacto a ser percebido é a quebra da confiança nas relações interpessoais, que ficam destruídas com o passar do tempo. Além disso, podem ocorrer problemas de ordem social, provocando situações que envolvem desconhecidos.
A mitomania é um risco até mesmo para o psicológico do paciente, que pode ser profundamente afetado pelas mentiras constantes. Com a reincidência das histórias fantasiosas, o indivíduo pode acabar acreditando em uma realidade que não existe e se afundar em uma espécie de isolamento compulsório pelo afastamento do grupo de convívio. Em outros casos, os problemas podem resultar em complicações legais, fazendo com que o mitômano responda judicialmente pelas suas mentiras. Dificilmente um mentiroso crônico procura ajuda por conta própria. Ele não acredita que suas mentirinhas sejam uma doença, por isso, não veem motivos para procurar tratamento.
O problema é que a patologia pode se transformar em transtornos mais graves, associados a outras doenças psiquiátricas e psicológicas — transtornos de personalidade antissocial, por exemplo. O tratamento da mitomania pode ser feito através de sessões psiquiátricas e psicológicas.
É nesse processo que o paciente começa a identificar a doença e a expressar quais são os aspectos da sua vida que geram tanta insatisfação a ponto de ele tentar fantasiar outra realidade. A partir daí, o indivíduo toma consciência dos gatilhos que desencadeiam suas mentiras e do que precisa ser feito para mudar verdadeiramente a sua vida, se desfazendo da necessidade, do hábito e da compulsão pela mentira. Pode ser um longo processo, mas é bastante efetivo.