MARCO ZERO
A nossa História começou aqui!
A Praça Arthur Thomas desde os primórdios de Umuarama é um lugar importante, seja de convivência dos antigos pioneiros; ou como marco inicial do pólo comercial da urbe; palco de saudosas manifestações políticas, religiosas, artísticas e, principalmente, um jardim de diversão para as crianças do passado que hoje já vivem a Terceira Idade...
Nesse espaço, o território da “Pedra”, durante os tempos da fundação, colonização e anos seguintes, foram fechados grandes negócios de terras e café pelos antigos “picaretas” na era do Ouro Verde; as filiais de redes de lojas famosas se instalaram ali... Com seus mais de 1.700 metros quadrados e 42 metros de diâmetro, aquele largo público está desenhado na memória afetiva da Capital da Amizade.
No começo, antes mesmo da fundação de Umuarama, era feiosa, de chão batido, poeirenta ao sol e barrenta sob as chuvas. Ali funcionava a parada das “jardineiras”, aqueles ônibus desajeitados e barulhentos, que mais pareciam gaiolas mal acabadas do que veículos de transporte de passageiros, trazendo as famílias pioneiras. Depois, quando Umuarama passou de distrito de Cruzeiro do Oeste a município, ela virou definitivamente uma praça, toda calçada, em 1962. Ganhou seringueiras, que depois viraram verdadeiras gigantes verdes. Décadas após, foram derrubadas a machadadas.
Na Arthur Thomas já teve de tudo: namoros que viraram casamentos, bandas tocando retretas aos domingos, pastores evangélicos anunciando os fins dos tempos, políticos fazendo promessas que nunca cumpriram. Aconteceram brigas feias e até tiros. Foi aconchego de velhinhos aposentados, de corre-corre da garotada, até mesmo pista de carrinhos de rolimã foi.
Ali os antigos mascates vendiam roupas que encolhiam ao preço de sedas finas, os “homens da cobra” propagandeavam remédios milagrosos, palhaços (de verdade, com nariz vermelho e tudo mais) divertiam os transeuntes.
Nas noites de lua, havia serenatas com violeiros caipiras, seresteiros boêmios e até os cabeludos da Jovem Guarda fazendo rock. Belas lembranças dos tempos em que todos saíam às ruas, seguros e tranqüilos, para conversar, contar ‘causos’ e falar de caçadas e pescarias. Belas tardes de sábados e domingos, das meninas bonitas usando minissaias curtíssimas e dos marmanjos em pose de galãs com seus topetes batendo pernas na praça ou encostados em seus jipões na Avenida Paraná, no trecho batizado de “Bobódromo” (pois eles ficavam ali no doce fazer nada conversando nada com nada...). Eram os filhinhos de papai da época.
A Arthur Thomas com seus antigos taxistas, com seus jipões à espera de corridas pelas estradas afora levando a bordo investidores vindos de
São Paulo e Londrina para comprar terras e safras de café. Foi ponto dos vendedores de bilhetes de loteria. “Hoje deu cobra, mas amanhã vai dar viado ou vaca, eu hein?!”, gritavam para atrair os que confiavam na sorte para enriquecer.
Naquelas escadarias subiam e desciam os vendedores de algodão doce, de tapetes, de redes e outros badulaques. Naquela velha praça nas manhãs e nos fins de tardes quentes, milhares de andorinhas davam o maior espetáculo da terra com suas revoadas de cobrir o céu. O povo ficava encantado, os donos de carros prometiam envenená-las pois “enfeitavam de branco” os seus veículos recém-lustrados. Uns, mais irados, ensopavam sacos de estopa com óleo diesel para soltar aquela fumaça fedida e espantar as aves...
Inesquecíveis são as ruidosas festas de inauguração das filiais das Casas Pernambucanas, Casas Buri e Lojas MM, ícones das confecções nacionais do passado. E suas promoções, que aglutinavam multidões, vindas de todos os cantos da zona rural... Nos finais de ano, os lojistas brindavam a distinta clientela com shows de sanfoneiros e violeiros caipiras rodopiando nas calçadas. (Esta dá saudade: uma vez, dois meninos meio tímidos tocavam viola na porta da MM, então dois ilustres desconhecidos; depois, o Brasil todo veio a saber que eram Chitãozinho & Xororó!!!) E os comerciantes de descendência árabe, com seu estilo inconfundível de mestres em negócios, chamavam os clientes na calçada convidando-os a entrar para ver as ofertas, tudo “muito baratínio, brimo!”...
O Bar Carioca, então, fervilhava de fofoqueiros e políticos de plantão, merecendo o codinome “Boca Maldita”... A poucos passos, em alto e bom som, quatro poderosas cornetas do sistema de alto-falante “A Voz de Umuarama” espalhava pelo ar as propagandas dos comerciantes. Velhos tempos em que ainda não existiam as ondas sonoras do rádio local.
Mesmo depois que construíram a Praça Santos Dumont, mais vistosa, moderna e espaçosa, a velha pracinha não perdeu totalmente a sua efervescência. Isso só ocorreu dos anos 1990 para cá: sem nenhum carinho estético, foi definhando maltratada pelas administrações municipais, que nunca a cuidaram.
Acabou virando um espectro no coração da urbe, desprezada. Só os mais tradicionais guardavam ternura por ela, principalmente aqueles que vão ali sonhar acordados de saudade com os velhos tempos que não voltam mais.
À noite, vítima de vandalismo daqueles que odeiam a cidade, ela causava medo e caiu em completo silêncio mortal. O busto do colonizador inglês que dá nome ao logradouro, permaneceu lá inerte, solitário e sinistro. Até mesmo os pássaros não faziam mais dos galhos de suas árvores morada noturna.
A topofilia pela antiga praça desapareceu, o afeto exauriu-se. Para muitos, ela ficou invisível à luz do dia. De ícone de outrora, padeceu no esquecimento. Era preciso resgatar esse sentimento.
Mas, felizmente, o prefeito Moacir Silva, que viveu momentos de alegria na sua infância e adolescência, depois de eleito prometeu devolver a vida à antiga pracinha. E cumpriu: mandou preparar um belo projeto de completa revitalização, misturando o antigo e o moderno, dando nova vida a esse logradouro que transpira história e lembranças da vida de várias gerações.
Hoje ela é um cenário de beleza, com traços arquitetônicos que dão um toque de nostalgia a quem vai ali passar momentos de paz em pleno centrão nervoso da Capital da Amizade. Rodeada pelo comércio, ela é um aconchego e ao mesmo tempo um cartão-postal admirado pelos visitantes e pelos que a rodeiam quando trafegam pela Avenida Paraná.(ITALO FÁBIO CASCIOLA/Todos os direitos autorais de texto e imagens protegidos por Lei Federal)
Aqui chegaram os fundadores de Umuarama... Foi nesta pracinha que surgiram as primeiras lojas... O lugar onde tudo começou, o Marco Zero de Umuarama!
Uma das “Jardineiras”, como eram chamados os antigos busões, eram o meio de transporte daqueles precursores que vieram abrir a mata virgem e ‘plantar’ uma nova cidade no Paraná! E aquela praça era o ponto de chegada daqueles valentes pioneiro para iniciar uma grande aventura num território selvagem e distante da civilização...
A filial das Casas Pernambucanas foi a primeira grande loja a se instalar na Capital da Amizade no início dos anos 1960. A inauguração ‘ferveu’ e veio gente de todos os cantos, agitando a pracinha do início da manhã até o começar da noite...
Quando Umuarama virou município, a Praça Arthur Thomas foi urbanizada, ganhou bancos e jardins e virou ponto de encontro das famílias umuaramenses. Curtir a praça era o programa mais divertido de todo mundo na época – antes e depois de assistir filmes no Cine Guarani, situado ali pertinho...
Tempos depois as árvores cresceram e a pracinha ficou ainda mais prazerosa de se frequentar... Mas, no início deste milênio, ela estava desgastada, melancólica e esquecida pelas gerações que ali tanto se divertiram...
No início desta década de 2010, o prefeito Moacir Silva – que durante sua adolescência ali brincou – decidiu revitalizar completamente a Arthur Thomas. E hoje ela é toda beleza e orgulha a comunidade da Capital da Amizade!