DESCOBERTA!
Dragão vivia em Cruzeiro do Oeste!
Os pesquisadores da Universidade do Contestado (UnC) anunciaram uma nova espécie fóssil de réptil voador (pterossauro) denominado de Keresdrakon vilsoni, encontrado no município de Cruzeiro do Oeste, aqui noroeste do Estado do Paraná.
A descoberta foi publicada na segunda-feira (19) pela Revista da Academia Brasileira de Ciências. Os fósseis foram encontrados em rochas areníticas da Bacia Sedimentar do Paraná/Bacia Bauru, onde já foram encontrados e descritos outros fósseis: o pterossauro Caiuajara dobruskii, o lagarto Gueragama sulamericana e o dinossauro Vespersaurus paranaensis.
Para o pesquisador da Universidade do Contestado (CENPALEO/UnC), Dr. Luiz Carlos Weinschütz, “o pterossauro Keresdrakon vilsoni viveu entre 110 e 80 milhões de anos atrás, em um ambiente desértico periférico, onde existiam oásis com água e certa vegetação. Enxurradas esparsas carreavam ossos e carcaças dessa e das outras espécies para o fundo desse lago, desarticulando e até misturando estes restos, formando verdadeiras camadas de ossos”.
Este sítio fossilífero foi inicialmente descoberto em 1971 por Alexandre Gustavo Dobruski e seu filho, João Gustavo Dobruski, no leito de uma estrada rural. Em 1975 enviaram algumas amostras para UEPG (Ponta Grossa, PR), onde somente em 2012 foram retomados os estudos e iniciadas as escavações coordenadas pela Universidade do Contestado (UnC) e Museu Nacional/UFRJ, com a participação da UEPG, UFPR, Unipar, e representantes locais. Estas escavações foram autorizadas pelo DNPM (hoje ANM), com conhecimento e apoio da Prefeitura de Cruzeiro do Oeste.
O estudo desta nova espécie envolveu pesquisadores de várias instituições: Museu Nacional/UFRJ, Universidade do Contestado, Universitat Autonoma de Barcelona, URCA e UFPE.
Segundo o Dr. Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional/UFRJ e um dos autores do artigo, a descoberta de Cruzeiro do Oeste é muito interessante, não apenas por ser uma nova espécie de réptil alado.
"Não se trata apenas de uma espécie nova. O mais importante e que às vezes passa despercebido por alguns pesquisadores é o fato de você encontrar uma sucessão de três horizontes com grande concentração de ossos (os bonebeds) e com associação de duas espécies de pterossauros, cada uma especializada em um modo de vida e hábito alimentar. Além disso, temos também associado um dinossauro, o que permite ter uma ideia da paleoecologia - ou seja, a relação entre espécies - em uma área que há milhões de anos já foi um deserto", disse Kellner.
RÉPTIL DE GRANDES PROPORÇÕES!
"O Keresdrakon vilsoni foi um pterossauro de grandes dimensões, bem maior que o Caiuajara dobruskii, o outro pterossauro achado no sítio de Cruzeiro do Oeste", disse Borja Holgado, co-autor do trabalho, doutorando no Museu Nacional/UFRJ e pesquisador associado ao Institut Català de Paleontologia ‘Miquel Crusafont’ de Barcelona (Espanha).
"Ele apresentava um bico enorme e forte, comparável ao de algumas aves atuais de grande porte, tais como jaburu brasileiro ou o marabu africano. Conhecendo os hábitos alimentares dessa última ave, é pelo qual discutimos a possibilidade que tivesse hábitos alimentares carniceiros e de pilhagem”.
Para o Doutor Renan Bantim, pesquisador da Universidade Regional do Cariri, “a descoberta de mais uma espécie de pterossauro no bone-bed "cemitério dos pterossauros", abre um leque de possibilidades para estudos ecológicos e comportamentais com base em fósseis, principalmente com o auxílio da paleohistologia, uma técnica em evidência nas pesquisas mundiais porém ainda pouco explorada no Brasil”, esta técnica foi empregada em alguns ossos do Keresdrakon”.
Segundo a Doutora Juliana Sayão da UFPE e especialista em Paleohistologia, o emprego desse método em grandes acúmulos de ossos como o que se apresenta o Keresdrakon, abre uma janela de novas possibilidades para interpretações além das descrições tradicionais feitas em trabalhos de Paleontologia.
POPULAÇÃO DE RÉPTEIS ALADOS
“Em registros raros como esse, é possível estabelecer se neste sítio existia uma população de répteis alados, suas idades e traçar os padrões fisiológicos dessa nova espécie. Nesse caso específico verificamos que apesar do tamanho dos ossos encontrados ser maior do que de outras espécies de pterossauros, no registro fóssil temos apenas animais jovens, apontando para um tamanho ainda maior para essa espécie quando chegassem a fase adulta”.
“DRAGÃO ESPÍRITO DA MORTE”, O NOME
Em relação à sua denominação, Keresdrakon é a junção de Keres, que pela mitologia Grega são espíritos que personificaram a morte violenta e estão associados a fatalidade e/ou pilhagem; e drakon, que pelo grego antigo é a palavra para dragão ou enorme serpente, e vilsoni foi dado em homenagem ao Sr. Vilson Greinert, um voluntário que dedicou centenas de horas preparando a maioria dos espécimes desse “cemitério dos pterossauros“ que fazem parte do acervo do CENPALEO – Centro Paleontológico da Universidade do Contestado, na cidade de Mafra, SC.
Esse trabalho é fruto da união de cientistas de diferentes instituições que, além da descoberta, estão auxiliando na reconstrução do Museu Nacional/UFRJ.
REPORTAGEM: Italo Fábio Casciola
FONTE: Com informações da Academia Brasileira de Ciências
Edição: Thais Polesi
Pesquisadores fizeram escavação em busca de pteurossauros e encontraram as ossadas do crânio do Keresdrakon vilsoni, o “Dragão Espírito da Morte”, em Cruzeiro do Oeste