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TRISTE REALIDADE
Crise de saúde mental nas escolas
No pós-pandemia, 7 em cada 10 alunos tem sintomas de depressão
Publicado em 29/09/2022 às 07:10 Ítalo
Crise de saúde mental nas escolas

No pós-pandemia, sete em cada 10 alunos relatam sintomas de ansiedade ou depressão, segundo estudo. Professora revela sensação de desespero e impotência ao lidar com situação.

"Temos muitas crianças com sintomas de depressão e ansiedade. Uma aluna chegou a desmaiar na escola e várias vezes a criança sai no meio da aula, no meio da prova, não conseguindo respirar, fica lá chorando, tremendo’.

‘Estamos com muita criança com crise de ansiedade — a gente acha, né, porque não podemos diagnosticar ninguém. Mas acredito que é decorrente de tudo que aconteceu na pandemia’.

‘A gente conversa com a criança, fala com a família e fica de dar encaminhamento para o psicólogo. Mas depois de um tempo perguntamos, 'E aí, você está indo [ao psicólogo]?' e eles falam 'Fui uma vez, mas não teve mais nada.' Eles fazem o atendimento inicial, mas não conseguem acompanhamento com o psicólogo no postinho’.

O relato é de uma professora da EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Solano Trindade, no Jardim Boa Vista, zona oeste de São Paulo, que optou pelo anonimato.

O quadro descrito por ela está longe de ser um caso isolado. Um mapeamento feito pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, divulgado em abril deste ano, identificou que 69% dos estudantes da rede estadual paulista relatam ter sintomas ligados à depressão e ansiedade.

'VOLTA DA PANDEMIA ESTÁ SENDO MUITO DIFÍCIL'

Adriana Curado, coordenadora pedagógica da EMEF Solano Trindade, confirmou à BBC News Brasil o quadro descrito pela professora. Segundo a pedagoga, as questões de saúde mental dos alunos se agravaram com a volta às aulas presencias pós-pandemia.

"A volta da pandemia está sendo muito difícil, pois os alunos trazem várias situações para a escola", diz Curado.

"São muitos alunos com problemas de ansiedade, de pânico, questões de violência, abusos, negligências.

Os casos aumentaram demais, inclusive os casos de conflito, de eles conseguirem lidar com situações do dia a dia", diz a coordenadora.

A avaliação da professora é similar. "Eles estão com muita dificuldade de relacionamento entre si.

Essa situação de voltar à escola e conviver com os colegas todos os dias, nós percebemos muita dificuldade neles", diz a educadora.

"E eles têm outros motivos para sofrimento: mortes na família, pais se separando, falta de comida em casa, que são coisas que eles não estão conseguindo lidar."

A coordenadora pedagógica observa que tudo isso acaba prejudicando o aprendizado. "A pandemia causou uma defasagem muito grande nos alunos, de conteúdo, do aprender.

Com essa defasagem, a gente consegue lidar, porque somos formados para isso. Então temos várias ações pedagógicas de reforço, de priorização curricular, para dar conta disso", conta.

"Mas, junto com isso, tem todas essas questões de saúde mental, principalmente entre os adolescentes. Teve um momento aqui um dia, que numa sala de cerca de 30 alunos, dez começaram a apresentar sintomas de ansiedade ao mesmo tempo.

Então o professor precisa parar a aula, conversar. Os alunos saem de sala, perdem aula, depois no outro dia, eles não vêm. Então não está fácil, porque o professor também não tem formação para lidar."

Para mais informações sobre o assunto CLIQUE AQUI

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62613309

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