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NA TRILHA DA HISTÓRIA
Praça Arthur Thomas, o Marco Zero de Umuarama
A longa história da Capital da Amizade começou aqui...
Publicado em 20/06/2023 às 07:00 Italo
Praça Arthur Thomas, o Marco Zero de Umuarama

A Praça Arthur Thomas desde os primórdios de Umuarama é um lugar importante, seja de convivência dos antigos pioneiros; ou como marco inicial do pólo comercial da urbe; palco de saudosas manifestações políticas, religiosas, artísticas e, principalmente, um jardim de diversão para as crianças do passado.

Nesse espaço, o território da “Pedra” como era chamado, durante quase 60 anos foram fechados grandes negócios de terras e safras de café pelos antigos “picaretas” na era do ouro verde; as filiais de redes de lojas famosas se instalaram ali... Com seus mais de 1.700 metros quadrados e 42 metros de diâmetro, aquele largo público está desenhado na memória afetiva da comunidade.

No começo, antes mesmo da fundação de Umuarama, era feiosa, de chão batido, poeirenta ao sol e barrenta sob as chuvas. Ali funcionava a parada das “jardineiras”, aqueles ônibus desajeitados e barulhentos, que mais pareciam gaiolas mal acabadas do que veículos de transporte de passageiros, trazendo as famílias pioneiras. Depois, quando passou de distrito de Cruzeiro do Oeste a município, ela virou definitivamente uma praça, toda calçada, em 1962. Ganhou seringueiras, que depois viraram verdadeiras gigantes verdes. Décadas após, foram derrubadas a machadadas.

Na antiga Praça Arthur Thomas já teve de tudo: namoros que viraram casamentos, bandas tocando retretas aos domingos, pastores evangélicos anunciando os fins dos tempos, políticos fazendo promessas que nunca cumpriram (essa moda é antiga, né, e eles não tomam jeito!). Aconteceram brigas feias e até tiros. Foi aconchego de velhinhos aposentados, de corre-corre da garotada, até mesmo pista de carrinhos de rolimã foi.

Ali os antigos mascates vendiam roupas que encolhiam ao preço de sedas finas, os “homens da cobra” propagandeavam remédios milagrosos, palhaços (de verdade, com nariz vermelho e tudo mais) divertiam os transeuntes.

SERENATAS NAS NOITES DE LUA

Nas noites de lua, havia serenatas com violeiros caipiras, seresteiros boêmios e até os cabeludos da Jovem Guarda fazendo rock. Belas lembranças dos tempos em que todos saíam às ruas, seguros e tranquilos, para conversar, contar ‘causos’ e falar de caçadas e pescarias. Belas tardes de sábados e domingos, das meninas bonitas usando minissaias curtíssimas e dos marmanjos em pose de galãs com seus topetes.

A Arthur Thomas com seus antigos taxistas, com seus jipões à espera de corridas pelas estradas afora levando a bordo investidores vindos de São Paulo e Londrina para comprar terras e safras de café. Foi ponto dos vendedores de bilhetes de loteria. “Hoje deu cobra, mas amanhã vai dar viado ou vaca, eu hein?!”, gritavam para atrair os que confiavam na sorte para enriquecer.

Naquelas escadarias subiam e desciam os vendedores de algodão doce, de tapetes, de redes e outros badulaques. Naquela velha praça nas manhãs e nos fins de tardes quentes, milhares de andorinhas davam o maior espetáculo da terra com suas revoadas de cobrir o céu. O povo ficava encantado, os donos de carros prometiam envenená-las pois “enfeitavam de branco” os seus veículos recém-lustrados. Uns, mais irados, ensopavam sacos de estopa com óleo diesel para soltar aquela fumaça fedida e espantar as aves...

Inesquecíveis são as ruidosas festas de inauguração das Casas Pernambucanas, Casas Buri e Lojas MM, ícones das confecções nacionais do passado. E suas promoções, que aglutinavam multidões, vindas de todos os cantos da zona rural... Nos finais de ano, os lojistas brindavam a distinta freguesia com shows de sanfoneiros nordestinos e violeiros caipiras rodopiando nas calçadas. (Esta dá saudade: uma vez, dois meninos meio tímidos tocavam viola na porta da MM, então dois ilustres desconhecidos; depois, o Brasil todo veio a saber que eram Chitãozinho & Xororó!!!) E os comerciantes de descendência árabe, com seu estilo inconfundível de mestres em negócios, chamavam os clientes na calçada convidando-os a entrar para ver as ofertas, tudo “muito baratínio, brimo!”...

O Bar Carioca, então, fervilhava de fofoqueiros e políticos de plantão, merecendo o codinome “Boca Maldita”... A poucos passos, em alto e bom som, quatro poderosas cornetas do sistema de alto-falante “A Voz de Umuarama” espalhava pelo ar as propagandas dos comerciantes. Velhos tempos em que ainda não existiam as ondas sonoras do rádio local.

Mesmo depois que construíram a Praça Santos Dumont, mais vistosa, moderna e espaçosa, a velha pracinha não perdeu totalmente a sua efervescência. Isso só ocorreu dos anos 1990 para cá: sem nenhum carinho estético, foi definhando maltratada pelas administrações municipais, que nunca a cuidaram. Acabou virando um espectro no coração da urbe, desprezada. Só os mais tradicionais guardaram ternura por ela, principalmente aqueles que iam ali sonhar acordados de saudade com os velhos tempos que não voltam mais... À noite, vítima de vandalismo daqueles que odeiam a cidade, ela causava medo e caía em completo silêncio mortal. O busto do colonizador inglês que dá nome ao logradouro permaneceu lá inerte, solitário e sinistro, assistindo a tudo... Até mesmo os pássaros não faziam mais dos galhos de suas árvores morada noturna. A topofilia pela antiga praça desapareceu, o afeto se exauriu. Para muitos, ela estava invisível à luz do dia. De ícone de outrora, durante um certo período padeceu no esquecimento. Era preciso resgatar esse sentimento.

FATO QUE MERECE SER LEMBRADO

Felizmente, o então prefeito Moacir Silva, que na antiga pracinha viveu momentos de alegria na sua infância e adolescência, promoveu uma completa revitalização, misturando o antigo e o moderno, dando nova vida a esse logradouro que transpira história e lembranças da vida de várias gerações.

Depois de revitalizada, ela reconquistou visitantes, atraiu de volta os velhos pioneiros – os que ainda vivem – para reinaugurar a tradição das tertúlias daqueles anos dourados... Eventos da comunidade voltaram a acontecer. E a nova Praça Arthur Thomas revigorou o movimento comercial que existe ao seu redor. (ITALO FÁBIO CASCIOLA)

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