Coluna Italo

Logo depois da fundação de Umuarama, a construção urbana entrou em ritmo acelerado pois todos os dias chegavam novos moradores que vinham trabalhar e investir na nova cidade. Uma legião de carpinteiros estava espalhada por todos os cantos, erguendo moradias e casas comerciais, pois com a cafeicultura avançando a todo vapor Umuarama seria com certeza um forte centro comercial.

Entre as construções que iam surgindo nos bairros centrais e ao longo da Avenida Paraná, um grupo preparava uma grande surpresa para a comunidade: o primeiro cinema!

A GRANDE SURPRESA: O PRIMEIRO CINEMA!

A construção começou em 1958 e durou seis meses. O local era bem no ‘coração’ da cidade, a Avenida Paraná (hoje próximo ao Choppatinhas). Já tinha nome escolhido: Cine Guarani e ficou pronto todo equipado e mobiliado no fim daquele ano.

Tinha 600 poltronas de madeira e foi edificado em alvenaria, sendo uma das primeiras construções desse tipo quando predominavam as edificações em madeira de peroba. Esse primeiro cinema da Capital da Amizade foi um empreendimento lançado pelos irmãos Rafael, Bohdan e Marciano Baraniuk (este depois foi eleito prefeito!).

É importante frisar que naquela época aqui não existia luz elétrica, mas o Cine Guarani implantou sua própria força motriz: um possante motor a diesel que gerava energia e alimentava o equipamento que projetava os filmes na chamada “tela panorâmica”.

Também iluminava a calçada, a entrada e a bilheteria, além dos arredores e fundos do prédio. Depois de alguns anos na direção da Família Baraniuk, o Cine Guarani foi comprado pela empresa Araújo & Passos, de Botucatu (SP).

LONGAS FILAS NA CALÇADA DA AVENIDA PARANÁ

Eram os primeiros dias de janeiro de 1959, início das férias escolares. E nesse momento Umuarama ganhava o Cine Guarani, a primeira casa de espetáculos do gênero. Era um tempo em que a TV dominava em absoluto a diversão das famílias. Era transmitida em preto e branco, cores nada bonitas para nossos olhos, mas nos impressionavam pois mesmo assim elas nos divertiam. Aos domingos e durante o período noturno das semanas era a única fonte de lazer.

Então, quando o Cine Guarani iniciou suas atividades foi uma loucuuura… A estreia aconteceu no primeiro fim de semana daquele mês. E quem estava de férias foi conhecer o cinema. Para mostrar uma diversidade de temas cinematográficos, o Guarani exibiu na sexta-feira, sábado e domingo filmes curtos, na tentativa de agradar a todos os gostos. A maioria eram comédias estreladas pelos super stars daquele tempo, como Charles Chaplin e a famosa dupla O Gordo e o Magro, todos em preto e branco e dublados.

O público, é claro!, adorou e saiu pela cidade falando maravilhas do primeiro cineminha da Capital da Amizade. A repercussão foi imensa e a cada dia as plateias foram aumentando... O Cine Guarani assumiu a liderança como principal lugar de diversão de Umuarama. Tanto nas matinês e nas 3 sessões noturnas de domingo como nas sessões noturnas da semana inteira formavam-se filas quilométricas para entrar no cinema. E, claro, não tinha espaço para acomodar todo mundo, até porque os preços dos ingressos não eram caros, pois vivíamos num período em que a economia brilhava com a alta produtividade da cafeicultura.

Frequentar a antiga sala de cinema durante muito tempo foi o melhor e mais divertido ponto de encontro tanto da velha guarda (os pioneiros) como da nova geração (os filhos e netos dos pioneiros). Era diversão garantida e fazia parte da agenda semanal de toda a comunidade. Ir ao cinema tornou-se um costume e isso era praticado tanto nos dias da semana (as sessões noturnas) como aos sábados, domingos e feriados (com vários horários, além das matinês). Até mesmo em dias chuvosos a população ia ao cinema: era até engraçado ver as calçadas e a Avenida Paraná lotadas por uma multidão portando milhares guarda-chuvas... E, como eu disse, foi assim por muuuito tempo... mas nada é eterno e um dia isso tudo mudaria porque os tempos e a humanidade mudam!

Eis que de repente, tanto em cidades grandes como em pequenas cidades, as filas nas bilheterias começaram a sumir no início da década de 1970... Era a terceira semana do mês de março de 1974, ano que começou uma crise a bater forte fechando cinemas do Brasil inteiro.

E em Umuarama não foi diferente... Durante dois anos consecutivos o Cine Guarani vivia quase vazio até mesmo nos fins de semana. E, diante dessa decadência, já era esperando o fim do cinema pioneiro da cidade, até porque a mesma empresa havia construído o Cine Umuarama, com estrutura espaçosa e moderna, e a frequência lá também não era de grandes plateias, mas pelo menos a cidade continuaria tendo uma sala de cinema...

Foi diante dessa realidade que a empresa Araújo & Passos, dona do Guarani, decidiu colocar um ponto final na história. Naquela semana começou a distribuir em todo o comércio folhetos comunicando o fechamento do velho cineminha...

A mensagem era curta e reta: “A queda de frequência, o alto preço dos custos do aluguel dos filmes e a falta de público são os motivos do fechamento do Cine Guarani”. Acrescentava que “a intenção da empresa, por enquanto, é manter em funcionamento o Cine Umuarama. E continuará mantendo uma programação com grandes filmes para agradar a todos os fãs da arte do cinema”.

Finalizando informava que já estava “à venda o velho barracão onde funcionava o Cine Guarani bem como todo o terreno situado em excelente localização da Avenida Paraná, a principal via central da cidade”. Em poucos dias foi fechada a venda do imóvel e em uma semana tudo foi demolido e todo o material resultado da derrubada – madeiras, telhas, pedaços de paredes de cimento, tábuas dos pisos e do palco – foi levado por muitos caminhões para ser desovado num lugar distante da periferia da cidade. Rapidamente construíram um muro cercando o terreno e ficou definitivamente decretado o fim do histórico Cine Guarani.

Nas décadas posteriores (até hoje) foi ocupado por diversos tipos de estabelecimentos comerciais. Jovens das gerações atuais que passam pela calçada nem imaginam que naquele lugar existiu um cinema, onde as gerações anteriores durante quinze anos curtiram memoráveis momentos de alegria! (ITALO FÁBIO CASCIOLA)

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O Cine Guarani logo depois que iniciou suas atividades, com uma fachada meio rústica e grades; a Avenida Paraná ainda não tinha calçadas nem asfalto. Detalhe: em cima, o alto-falante que anunciava as atrações de cada dia ou matinê e que era ouvido por toda a comunidade do centro de Umuarama. Na entrada, dá pra ver os cartazes de filmes em exposição para os pedestres conferirem as atrações.

O projetor de filmes do Cine Guarani em sua segunda fase. Ele estava instalado numa sala acima da entrada do cinema e abaixo do telhado.

Por conta própria o cinema foi realizando melhorias como a construção de calçadas e meio-fios para evitar o acúmulo das águas e lama nos tempos de chuvas, mas a avenida continuaria sem asfalto...

No final dos anos 1960, na segunda fase e de propriedade de uma empresa de cinemas, o Guarani mudou a fachada mas continuou sem a avenida asfaltada... Esta imagem retrata uma multidão esperando o início de mais uma sessão de uma matinê na tarde de um domingo...