Saude
Outro drama nacional: A depressão virou pandemia no Brasil
O ano 2023 está começando mal... Neste momento o Brasil enfrenta uma segunda pandemia, desta vez na Saúde Mental. A Organização Mundial da Saúde – OMS - informou que no Brasil existem cerca de 12 milhões de pessoas que sofrem com a depressão, enquanto a ansiedade afeta quase 20 milhões brasileiros.
O impacto emocional das perdas familiares, o sentimento de medo, a falta de socialização, desavenças familiares e a instabilidade no trabalho aumentaram o nível de estresse e sofrimento psíquico dos brasileiros. “O aumento nos transtornos ansiosos e depressivos é uma tendência dos últimos anos, mas atingiu patamares muito mais alarmantes após a crise sanitária”, afirma a coordenadora da Comissão Nacional de Enfermagem em Saúde Mental (Conasem/Cofen), professora Dorisdaia Humerez.
Números do Datasus apontam que o total de óbitos por lesões autoprovocadas dobrou nos últimos 20 anos, passando de 7 mil para 14 mil. Dados anteriores à pandemia já apontavam episódios depressivos como a principal causa de pagamento de auxílio-doença não relacionado a acidentes de trabalho, correspondendo a 30,67% do total, seguida de outros transtornos ansiosos (17,9%). “Os indícios todos apontam para um aumento deste percentual após a pandemia”, avalia Dorisdaia.
“A Saúde Mental integra todos os níveis do cuidado, e a Enfermagem tem um papel fundamental, não apenas na identificação e encaminhamento dos casos, mas sobretudo na oferta de cuidado integral e conforto emocional para os pacientes”, explica a enfermeira, doutora em Saúde Mental.
“A Saúde Mental é muito mais do que a ausência de agravo ou transtorno mental. Saúde é bem-estar, e está intimamente ligada ao comportamento dos indivíduos”.
Lapsos de memória, depressão e ansiedade podem estar relacionados às sequelas cerebrais da covid-19, além dos impactos sociais do isolamento e das perdas.
No primeiro ano da pandemia de covid-19, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou cerca 25%, de acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde. Em 2020, a entidade já alertava para a necessidade de manutenção dos serviços de assistência à Saúde Mental e ampliação dos atendimentos.
“É quase o oposto do que fizemos”, avalia Dorisdaia, citando as interrupções na assistência e cortes no financiamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). “A rede de serviços de base comunitária sofre com uma defasagem no âmbito do orçamento, enquanto os custos dos hospitais psiquiátricos crescem”.
PREVENÇÃO
A busca por ajuda profissional é fundamental quando quadros como insônia, irritabilidade e desânimo persistem por várias semanas. “O tratamento inicialmente busca fortalecer mecanismos adaptativos que estão fragilizados. Em alguns casos, há benefícios no uso medicação, mas ela deve ser usada com critério”, explica.
Dorisdaia ressalta que a Saúde Mental é bio-psico-social, não podendo ser isolada das condições efetivas de vida, trabalho e sociabilidade do indivíduo.
IMPACTO GLOBAL
Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade, com custo à economia global de quase um trilhão de dólares.
Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT/ONU) afirma que, ao contrário do que muitos imaginam, o impacto da Saúde Mental sobre o trabalho é tão relevante nos países de baixa renda quanto nos países desenvolvidos.
TRABALHO CURA, MAS TAMBÉM ADOECE
No documento, a OIT/ONU destaca que o trabalho é um potencial fator de promoção da Saúde Mental, por proporcionar estrutura temporal, contato social, senso de esforço e proposito coletivos, identidade social e atividade regular, fundamental na organização da rotina. Mas pode contribuir também para o adoecimento psíquico, com condições como “sobrecarga de trabalho, falta de instruções claras, prazos irrealistas, não-participação nas tomadas de decisão, insegurança no emprego, condições de trabalho em isolamento, vigilância e arranjos inadequados de cuidado com filhos pequenos”.
Para Dorisdaia, “independente da resiliência individual, os processos de trabalho têm consequências sobre a saúde mental dos empregados”. “A ideologia gerencialista, que busca canalizar todo o capital mental do indivíduo para o trabalho, pode desencadear quadros agudos de estresse, ansiedade e depressão.
A vigilância panóptica também mina a motivação intrínseca do indivíduo, o sentimento de coletividade”, afirma.
FONTE: Ascom – Cofen