BRASILOSSAUROS
Brasil foi a terra dos dinossauros!
O Brasil foi há 66 milhões de anos um gigantesco Jurassic World, habitado de Norte a Sul por animais pré-históricos que não existem mais... Tudo foi destruído por um asteroide que não deixou uma vida e chegou até mudar a geografia planetária... Paleontólogos já identificaram pelo menos 27 espécies de dinossauros que pisaram no que corresponde, hoje, ao território brasileiro.
Como, naquela época, os continentes estavam conectados, uma espécie poderia se espalhar do Rio Grande do Sul à Alemanha, pisando terra firme. Alguns dinossauros, aliás, fizeram isso: parentes próximos do Unaysaurus tolentino, espécie da região de Santa Maria (RS), foram descobertos em território alemão.
Com as evidências paleontológicas coletadas até agora, os pesquisadores acreditam que os animais fizeram o trajeto Brasil – Europa, e não o contrário. Na região que corresponde à área que vai do Rio Grande do Sul à Argentina, é grande a concentração dos fósseis mais antigos do planeta, o que sugere que os dinossauros podem ter surgido por aqui. Até agora, os cientistas identificaram em território gaúcho oito espécies com idades que podem variar de 237 a 208,5 milhões de anos.
“Eles podem ter ocupado todo Centro-Sul da América do Sul, mas esse material não se preservou”, diz Max Langer, da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto. No Rio Grande do Sul, ao contrário, se formou um pacote rochoso a partir dos sedimentos que soterraram essas espécies, protegendo partes de seus esqueletos das intempéries.
O Brasilotitan nemophagus é um titanossaurídeo e é brasileiríssimo até no nome...
MUNDO TRIÁSSICO: BRASIL TINHA MAIS
O paleontólogo Rodrigo Miloni Santucci, da Universidade de Brasília, conta que o Triássico foi um momento de transição: o mundo deixou de ser tão marinho e passou a ser mais seco. Nesse período surgem os primeiros dinossauros do Brasil e do planeta. Em um cenário semiárido, com alguns rios, viveram dinossauros como o Pampadromaeus barberenai (ilustração ao lado), de pouco mais de um metro de comprimento, o Buriolestes schultzi, de 1,5 metro, e o Bagualosaurus agudoensis, de até 2,5 metros.
Os fósseis foram localizados na região de Santa Maria (RS). Depois deles, no período Jurássico, há uma lacuna e não se sabe qual era a fauna nessa parte do globo. “No Brasil, há poucas rochas sedimentares do Jurássico. Havia grandes desertos que poderiam limitar a distribuição geográfica dos dinossauros e, consequentemente, diminuir o processo de fossilização desses animais nas rochas sedimentares”, explica Bittencourt.
Este era o Amazonsaurus maranhensis, dinossauro típico brasileiro.
RETRATOS DO PASSADO
Segundo Langer, enquanto nossos fósseis triássicos estão entre os mais importantes do mundo por retratarem o surgimento dos dinossauros, os exemplares mais recentes, do Cretáceo, se destacam pelo estado de conservação. Foi possível, por exemplo, reconstituir um esqueleto de Maxakalissauro (foto acima), gigante que chegava a 20 metros de comprimento, encontrado no interior de Minas Gerais.
Os fósseis também nos ajudam a entender uma etapa importante do planeta: a separação dos continentes e a diversificação das espécies. “Dados geológicos indicam que África e América do Sul ficaram unidas até cerca de 100 milhões de anos atrás. Isso é confirmado pela descoberta de dinossauros similares no Norte e no Nordeste do Brasil e no Norte da África”, diz Bittencourt.
Nesse período após o triássico, os dinossauros ocuparam diferentes partes do Brasil, incluindo áreas do Nordeste, do Centro-Oeste e do Sudeste. Esses animais chegavam a alcançar 40 metros de comprimento.
DINOSSAUROS MADE IN BRAZIL PROTETOR DO SERTÃO
– O Angaturama limai habitava a região que, hoje, corresponde ao limite de Ceará e Pernambuco, em pleno sertão. Viveu há cerca de 110 milhões de anos e comia principalmente peixes. Com 6 metros de comprimento e 2 metros de altura, os paleontólogos acreditam que o animal tinha braços grandes e fortes – daí o nome “angaturama”, que em tupi quer dizer “espírito protetor” – Imagem: Rodolfo Nogueira/Divulgação O GIGANTE DA AMAZÔNIA – Com 10 metros de comprimento, o Amazonsaurus maranhensis habitou a área conhecida pelos geólogos como Formação Itapecuru-Maranhão, a cerca de 200 quilômetros de São Luís (MA).
O dinossauro viveu entre 125 a 100,5 milhões de anos atrás. Chegava a pesar 15 toneladas e era herbívoro.
UM TITÃ MADE IN BRAZIL
– O Brasilotitan nemophagus é um titanossaurídeo – herbívoro de quatro patas. Estima-se que esteve por aqui há 90 milhões de anos, na chamada formação Adamantina – região entre o noroeste paulista e o sul de Minas. Com cerca de 5 metros de comprimento, 3 de altura e 5 toneladas, é considerado um dos menores do grupo dos saurópodes Imagem: Rodolfo Nogueira/Divulgação IDENTIDADE REGIONAL “Tão maravilhoso quanto os próprios dinossauros é tudo o que eles nos ensinam sobre a nossa pré-história”, opina o paleontólogo Luiz Eduardo Anelli, que recentemente lançou um livro com o paleoartista Rodolfo Nogueira sobre os dinos brasileiros. São de Nogueira as ilustrações de dinossauros presentes nesta reportagem. Natural de Uberaba, Nogueira afirma que, entre todas as espécies nacionais retratadas, o Uberabatitan ribeiroi é seu favorito por conta do tamanho – chegava a 25 metros – e por ter sido encontrado perto da sua cidade. Daí o nome: Uberaba, “titan”, devido às dimensões, e ribeiroi como uma homenagem ao paleontólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro. A nomenclatura de vários dos dinossauros brasileiros remete a locais e profissionais da paleontologia. Santucci, que participou da definição de nomes em três casos, explica que o Adamantisaurus mezzalirai, por exemplo, que chegava a 12 metros, foi batizado assim por conta da região em que foi achado – a formação Adamantina – e como homenagem a Sérgio Mezzalira, uma referência na área. “Geralmente, o nome da espécie é uma homenagem, faz referência a uma localidade ou a uma característica”, diz. O Brasil ainda pode guardar resquícios de outros dinossauros, ainda por descobrir. Eles podem estar, por exemplo, em locais de mata densa. Áreas já mapeadas têm potencial de revelar novos animais. “Todo o interior de São Paulo pode de ter fósseis, por isso é preciso procurar constantemente e revisitar as áreas a cada um ou dois anos”, diz Santucci. Os pesquisadores aguardam o período de chuva, que pode lavar o solo e expor novas faixas. Eles também costumam visitar áreas de duplicação de estradas, em que a grande movimentação de terra pode trazer à tona camadas mais profundas. “Temos muita coisa para pesquisar ainda, há muitas perguntas. Como os dinossauros chegaram a um tamanho tão gigantesco, quanto tinham que comer para sobreviver?”, exemplifica Santucci. “Do que já foi coletado, falta uma porção pequena ser analisada. É importante continuar a coletar e fazer o monitoramento. Há muito mais enterrado do que nas gavetas”, afirma Langer.
PESQUISA: Italo Fábio Casciola
FONTES: USP Museu/Universidade de São Paulo e Universidade de Brasília