Do jeito que vai, a inflação vai chegar a 8% em maio...
O índice que mede a inflação oficial da economia brasileira voltou a subir em março ao registrar avanço de 0,93%, o aumento mais expressivo para o mês em seis anos. No acumulado de 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 6,1%, acima do teto da meta de 5,25% perseguida pelo Banco Central, com centro de 3,75% e piso de 2,25%. Para economistas e analistas do mercado financeiro, no entanto, a alta veio para ficar, e estimativas já apontam a inflação entre 7,5% e 8% nos 12 meses acumulados em maio e junho.
Os combustíveis se tornaram o maior vilão da inflação em 2021 após a disparada do barril de petróleo no mercado internacional com a retomada das economias globais neste primeiro trimestre. A alta lá fora também faz a Petrobras reajustar os preços no mercado doméstico, já que a petroleira adota a política de paridade internacional. As mudanças fizeram o preço da gasolina acumular alta de 22% neste trimestre, enquanto o diesel soma avanço de 18%.
A perseverança da desvalorização do real ante o dólar, influenciada principalmente pela fuga de investidores do País com o aumento do risco fiscal, e a falta de insumos para a indústria nacional por causa do desequilíbrio nas linhas de produção completam a tríade de fatores que trouxeram a inflação até aqui, e que devem continuar empurrando o índice para cima.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, afirma que, além dos fatores já conhecidos, o IPCA deve sofrer nos próximos meses a forte influência do encarecimento dos medicamentos após a autorização do governo federal para reajuste de até 10% desde o início deste mês – o dobro do permitido em 2020. A alta de 39% do gás natural a partir de 1º de maio é outra pressão que deve vitaminar a inflação até o fim do primeiro semestre.
“Os choques vão se juntando e fazem o impacto inflacionário acelerar”, afirma ele, que espera o IPCA em 7,5% no acumulado de 12 meses entre maio e junho. Segundo o economista, a persistência dessa alta difere dos discursos de autoridades sobre a sazonalidade do aumento. “Já estamos falando de pressão que começou no ano passado, veio para esse ano, e pode ficar em 2022. É um choque de três anos que corre o risco de ser permanente se o Banco Central não fizer nada”, afirma.
A economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, prevê alta ainda maior, de aproximadamente 8% nos 12 meses somados entre maio e junho. Além da alta do petróleo, dólar fortalecido e os gargalos na produção industrial, ela também cita o encarecimento de commodities agrícolas, como soja, carne, arroz e feijão, como fonte de pressão no IPCA.