Nélio Guazzelli escreve: Iracema, eu nunca mais te vi!
Esta Iracema é do Adoniran Barbosa que lamentou o amor perdido e a falta de atentar um aviso simples, que deixou triste acontecimento. Que isto tem com meio ambiente e nossos dramas coletivos?
Iniciemos falando de um debate ocorrido em tempo recente. Alguém que tenha participado da intensa movimentação em torno da criação de "corredores de biodiversidade" acontecida na década de 90, pode ter a impressão que nada prosperou naquela iniciativa.
Há equívoco nesta conclusão rasa. Aconteceram avanços e o maior destaque é a visível evolução acontecida no Parque Nacional de Ilha Grande, bem próximo de Umuarama, no Paraná, Brasil.. Quem conheceu aquela área anteriormente, por volta dos anos 80, comprova facilmente como melhoramos com a proposta de preservação daquela área, em faixa contínua.
Por outro lado, a insensibilidade dos legisladores nacionais quando revisaram as exigências de matas ciliares e áreas mínimas de florestas. Uma involução num assunto tão importante. Deixou brechas para o descontrole e desincentivou uma saudável proposta de ocupação rural e urbana. Incrível como que a palavra "reforma" soa de início como melhora, mas em várias situações é desastrosa e cheia de intenções setoriais.
A proposta de formação de corredor de biodiversidade sempre representou um enorme desafio, de difícil elaboração e implantação. Isto é inegável. Porém abandonar, da forma como aconteceu, fez mal às condições importantes do equilíbrio da natureza.
Com poucas palavras, os corredores de biodiversidade propunham a integração de áreas de bom porte de variedade vegetal e animal. Algo parecido como uma integração que acontece em uma rede de eletricidade. A energia produzida na Itaipu chega a todos os pontos do Brasil pela interligação de cabos em rede.
A comunicação acontece através de meios que a proporcione. Um, não ouve quem diz algo se não houver algum meio de transmissão e recepção. É necessário pontes para transpor os rios nas rodovias. Mesmo com internet sem fio, não é possível integrações sem uma infraestrutura própria.
Assim o Parque de Ilha Grande, portentoso como se apresenta, faz se uma Itaipu sem redes de distribuição. Também os bosques isolados em áreas urbanas não repartem equilíbrio ambiental.
O equilíbrio ambiental é parte da vida, é a vida. Desequilíbrio é conflito, é transtorno, é fraqueza, é sofrimento. O equilíbrio está posto por condições milenares da coexistência de elementos vitais.
Vendo reportagens sobre o controle do mosquito da dengue, com campanhas e equipes voluntariosas, de boa vontade, fazendo uma guerra contra o inseto, sempre tenho a impressão da iniciativa inútil e provisória. Sem contar com a sensação de gastos inúteis. Nada contra a limpeza de quintais. Mas para mim está claro que precisamos de algo mais completo. Não tenho formação em biologia, mas acredito que o procurado mosquito ganhou força e perigo por algum desequilíbrio ambiental. Vilão por injustiça.
Antecipo ao comentário "vamos esperar o novo equilíbrio vendo as mortes acontecendo dia a dia? De forma alguma. Porém não é recomendável abandonar as formas de recuperação ambiental. Pensando agora, no agora e no futuro com menos sofrimentos.
As cidades e os campos precisam desta atenção. Precisa de um olhar "via satélite", do mapa da terra, de localizar espaços vitais e propor ligações e integrações. Matas ciliares precisam ganhar força. Impossível dispensá-las. Qualquer cidade, qualquer campo pode oferecer uma implantação com este olhar da integração e da sincronização. Da preservação de espaços de bom porte de vegetação e a integração por caminhos de ligação entre si.
A ilustração no topo do artigo é fotografia de um mamão devorado por um gambá que escolheu meu quintal para coexistir. Reparte as frutas do quintal e neste mamão caprichosamente deixou as sementes na casca raspada, prontas para um plantio. Só faltou deixar um bilhete: "Escuta Iracema".
Em tempo compartilho a imagem que retirei do "Outras Palavras", uma resenha sensacional que apresenta sempre temas e artigos de forma muito proveitosa para as discussões atuais mais importantes.
(*) NELIO GUAZZELLI
COLABORADOR ESPECIAL DO PORTAL WWW.COLUNAITALO.COM.BR