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GEADA NEGRA
O dia mais triste de nossas vidas!
Publicado em 03/02/2017 às 00:00 Ítalo
O dia mais triste de nossas vidas!

Eu e toda a nossa gente que vivia em Umuarama naquela época áurea de riqueza em que reinava absoluto o café, nosso “Ouro Verde” cantado em verso e prosa, nunca vamos esquecer o terrível 18 de julho de 1975!

Foi o pior dia, em todos os sentidos, da nossa História. O sentimento era, sem sensacionalismo algum, de luto completo. De choro, da mais profunda tristeza no olhar de cada um de nós. Bem que eu gostaria de ter apagado essa data da memória, mas não consigo. Já tentei, em vão... Aquele dia amanheceu fúnebre, isso mesmo, um funeral coletivo.

Mas, com imensa amargura, vou recordar aqueles momentos nesta crônica igualmente amarga. Não por pieguice, mas como registro histórico para que os umuaramenses do futuro conheçam o nosso passado, pontilhado de muitas emoções felizes, mas cruelmente marcado por fatos que feriram a alma de quem vivia ou nasceu nesta nossa amada Capital da Amizade quarenta anos atrás.

Todo mundo já conhecia o clima do Paraná e sabia que nessa fase do inverno fazia frio mesmo. Mas, nos últimos dias uma brisa estranha soprava no ar. E as temperaturas caíam muito lentamente, mas em ritmo contínuo. Naquela noite, estava gelado de rachar os lábios. Até dentro de casa a sensação térmica era de causar arrepios n’alma.

Os fogões a lenha nas cozinhas, como se fosse uma premonição, ficaram acesos madrugada adentro para tentar aquecer a maioria das casas, de madeira, e amenizar aquela noite tétrica. Lá fora, um silêncio mortal tornava aquela escuridão assustadora. Nenhuma alma viva se atrevia sequer a colocar o nariz para ver o que estava acontecendo entre o céu e a terra naqueles momentos.

Lentamente, as horas foram passando. Quem conseguia dormir, dormiu. Quem sentia temor pelo que estava por vir, ficou ao redor do fogo que iluminava o interior das casas, a maioria ainda sem energia elétrica. Quem temia pelo futuro que rondava, estava insone.

Os lavradores mais velhos, calejados e experientes na cafeicultura, comentavam atormentados nos dias anteriores que poderia gear forte. No começo da noite, de olhos vidrados no alto do céu, tinham quase certeza de que aquela noite fatídica tinha chegado. Estava “limpo” demais, as estrelas piscavam parece que avisando o que estava chegando. Na geografia ondulada, os milhares de pés de cafés enfileirados permaneciam numa quietude estranha, nem uma folha sequer se movia.

Passada a meia-noite, entraram no palco os personagens tão temidos: o frio declinando e aquele assovio do vento que começava seu passeio por entre os cafezais. Estava em curso a Geada Negra. Segundo a segundo tudo se transformou num cenário polar, congelando a seiva daquelas robustas plantas até poucas horas antes verdejantes e viçosas. Galhos e troncos não resistiram a tamanho castigo.

É surrealista contar isso agora, 40 anos depois, mas quando raiou o dia seguinte pairava no ar um cheiro forte de café torrado, porém com um aroma com certo tom de azedume, meio nauseante. E isso estava acontecendo de ponta a ponta do Paraná.

Aquele gigantesco manto verde do dia anterior já tinha outra cor... A tonalidade era escura, com as folhas passando de sua cor original para aquele forte marrom escuro de café torrado, queimado... Daí o nome de “geada negra”. O irreal é justamente esse: estava queimado pelo gelo que cobria as galhadas e não por fogo de uma queimada.

Incrível acreditar, mas aquele ‘ouro verde’ estava virando cinzas. Estava destruído completamente um século de cafeicultura famosa mundialmente (os primeiros cafezais surgiram em 1860 no Norte Pioneiro do Paraná). O verdadeiro fim de um império econômico. Comércio quebrando, caravanas em filas enormes indo embora em situação de miséria, desemprego, pânico... Que Deus nos proteja de se repetir algo igual ou parecido.

Os registros climáticos oficiais estão preservados para recordar que o frio alcançou a marca de 3,5° C a 5° C negativos, no abrigo, nas regiões atingidas pela Geada Negra. O prejuízo ainda causa assombro: mais de 850 milhões de pés de café foram queimados, aniquilando em definitivo a economia, a geografia e a cultura do Paraná! E, para todos nós, era impossível esconder o desespero estampado em nossos olhos. Direta ou indiretamente, a falência se distribuiria entre todas as camadas sociais. Mas para quem plantava e vivia com sacrifícios nas lavouras, ver essa tragédia foi como ter a tão sonhada casa incendiada de uma hora para outra...

Francamente, naquele 18 de julho de 1975 sentimos a sensação de que o sonho tinha acabado. Aquele sonho vivido desde os anos 50, quando as caravanas de pioneiros mais antigos chegaram. Entre eles, meus pais, Don Bartolo e Dona Rosito, e este infante então com 4 anos de vida. Todos aportaram aqui naquele ainda desconhecido e pequeno lugarejo, Umuarama, com o coração repleto de esperanças de que havíamos encontrado a Terra Prometida, o nosso Eldorado.

Felizmente, todos nós umuaramenses provamos, a nós mesmos, que as crises, as catástrofes e os infortúnios que a vida nos prepara podem sim ser superados! Prova disso é ter a alegria de ver hoje, radiante e cada vez mais pujante, a nossa Umuarama no alto do pódio das cidades mais promissoras e desenvolvidas deste nosso tão querido Paraná. A nossa previsão e sonho era perfeito quando aqui chegados: este é o Eldorado, e todos os que trabalham, lutam e sonham podem construir seu futuro como nós fizemos. Avante, Capital da Amizade.

E podemos recordar aquela passagem cinzenta do 18 de julho de 1975 com a cabeça erguida e o desejo de superação realizado. Esse dia agora é apenas História, mas que História, hein?!

Apenas sinto uma ponta de inveja de Curitiba, onde nevou forte. Os flocos românticos cobriram a nossa Capital. Aqui não tivemos a chance de fotografar Umuarama toda coberta com um manto branco gelado. Aliás, pouca diferença faria se tivesse nevado, afinal a Geada Negra já tinha feito o “serviço” que tanto temíamos: levou nossa economia à completa falência e mandou da prosperidade à pobreza, em poucas horas, milhares de laboriosos lavradores. Portanto, se tivesse nevado, seria apenas mais um detalhe...

E com isso, como editor do jornal Ilustrado à época, perdi de dar a gloriosa manchete (que coube aos grandes jornais) na capa de nosso jornal: “NEVOU EM UMUARAMA!”. (ITALO FÁBIO CASCIOLA)

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