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MEMÓRIAS DE UM REPÓRTER
Prelúdio de um desafio selvagem
Era um tempo em que só havia o céu e a selva...
Publicado em 06/02/2018 às 09:00 Ítalo
Prelúdio de um desafio selvagem

Um dos privilégios mais prazerosos que a profissão de jornalista me conferiu, principalmente nos primeiros anos da carreira de repórter, foi ter ouvido admiráveis relatos dos antigos moradores de Umuarama.

Verdadeiros oráculos e testemunhas vivas do que se passou antigamente. Naquelas tertúlias saborosas que dividi com eles num passado de mais de quatro décadas ao jornalismo, extraí depoimentos inesquecíveis, testemunhos que misturavam memórias históricas ou mitológicas, mas todos confessados com a maior franqueza.

Depois de tanto beber nessas generosas fontes jorrando casos e causos da geração anterior à minha, hoje, preparado e feliz com tanto conhecimento adquirido, me dou ao prazer de poder repassar aos leitores deste álbum de memórias – e aos futuros garimpeiros de informações nostálgicas – tudo o que aprendi, vivenciei e que nestas crônicas deixo para a posteridade.

Como toda cidade tem uma história e, ela, consequentemente, tem um começo, nada mais óbvio do que relatar agora episódios da chegada dos primeiros habitantes, tempos que precedem a fundação de Umuarama, pois, é evidente que os fatos já aconteciam bem antes do memorável domingo 26 de junho de 1955.

Contavam os precursores, velhos amigos que na maioria já não estão mais entre nós, que nos idos de 1953 já havia gente morando por estas bandas, espalhadas por um canto e outro desse mundão verde e ainda absolutamente primitivo.

E faziam questão de frisar que a primeira porta de entrada foi a acidentada trilha que havia sido aberta para demarcar a lendária estrada de ferro (que, como já contei em reportagens de jornais, não passou de uma triste ilusão que até agora continua sendo um lero-lero bufo na boca de políticos) que ligaria Maringá, já em fase de colonização, à centenária Guaíra e, dali para frente, os trilhos seguiriam para o Paraguai e no futuro até as águas do Oceano Pacífico....

Era um tempo em que só havia o céu e a selva, guardando remotas marcas dos índios da tribo Xetá, verdadeiros donos de tudo o que existia, e que já estavam praticamente dizimados pela raça branca ávida em dominar (e lucrar com) o território.

Era um período heróico que pulsava entre o inacreditável e o dramático, um desses momentos que só aparecem de século em século em algum canto do planeta...

No começo eram poucos os agricultores abrindo terras para plantar e colher, mas, assim que as colonizadoras pulverizavam a propaganda da abertura de uma nova fronteira, inicialmente batizada de Norte Novíssimo e que depois foi simplificada para Noroeste, se transformaram em legiões.

Rumavam para cá forasteiros, aventureiros e colonos, imigrantes e emigrantes, todos de uma certa forma invasores numa verdadeira corrida para a conquista de um novo Paraná, um novo milagre da terra, protagonizando um desbravamento de um mundo novo que poucos anos antes nem sequer existia nos mapas.

E o caminho desse tesouro se resumia àquela primitiva trilha escondida na mata fechada, uma artéria pulsando, serpenteando por centenas de quilômetros e cortando aquela imensa floresta que parecia não ter fim.

As colonizadoras, que haviam fatiado o gigantesco território, anunciando um futuro paraíso agrícola para vender mais rápido os lotes rurais e urbanos, e o governo federal, sedento como sempre por mais impostos, estimulavam freneticamente a cultura do café em terras supostamente riquíssimas e venturosas. (Nem um pio sobre as terríveis geadas dos invernos rigorosos do passado e sobre o terreno arenoso frágil às chuvas que cavavam erosões)

Os ricaços investidores, a maioria paulistas, compraram terras baratíssimas aos montões. Que as revendiam aos colonos que chegavam, e que, por sua vez, sonhavam em virar futuros “Barões do Café”, como havia ocorrido em passado recente no vizinho Estado de São Paulo e depois na prodigiosa Londrina, que virou “Capital do Café”, no Paraná.

Todos estavam contaminados por um delírio incontido. Porém, é oportuno corajosamente reportar que a maioria formava uma plêiade de ignorantes no ofício da agricultura racional, sem absolutamente nenhuma técnica nem visão de futuro, visando apenas em “se dar bem” nos negócios da lavoura e nenhuma consciência para lavrar o solo.

Além disso, nem sequer atentaram para um inimigo cruel: o clima, totalmente desaconselhável para o plantio de café, crivado de constantes geadas arrasadoras que se abatiam sobre a região todos os anos. O preço dessa ignorância pagariam poucas décadas depois. Com juros altíssimos e lágrimas...

Caravanas, vindas de todos os lugares, deixavam para trás suas antigas vivendas e aportavam no Paraná, em auto-exílio num lugar inóspito e absolutamente misterioso. Todos traziam sobre os seus ombros o otimismo de encontrar um novo lar e um pedaço de chão para viver a vida toda, uma fé sólida que só se concretizaria para aqueles que trabalharam duro e tiveram um afago da sorte.

Para todos nós, que chegamos em meados do século passado, nas décadas de 1950 e 60, os ventos da esperança de dias melhores começaram a soprar assim que atravessamos as fronteiras do Paraná.

Uns chegavam do Nordeste, outros das Minas Gerais, os paulistas de mais de perto, e até os imigrantes (ou descendentes) que vieram para o Brasil da Europa e da Terra do Sol Nascente. Todos, indistintamente, se encantavam ao ver o Eldorado que estava sendo aberto neste Norte Novíssimo.

Mas, ao passar pelo Norte Pioneiro, depois Londrina e Maringá, já sentimos na alma os desafios que estavam à espera por aqui. De certa forma, isso fortaleceu a vontade de explorar, conquistar, desbravar e trabalhar, afinal, todos acreditavam no poder do labor e as recompensas que ele iria gerar mais tarde na forma de colheitas fartas nas lavouras.

Porém, a beleza e surpresas da paisagem em franco desenvolvimento agrícola e populacional que se via na “Capital do Café” e na “Cidade Canção”, e arredores, mudava bruscamente de Maringá para cá. O tal desafio surgia à nossa frente conforme a viagem avançava para cá, na forma de uma floresta absolutamente fechada, sulcada unicamente pela tal lendária trilha da “futura ferrovia”. Uma imensa área completamente primitiva. Aí sim brotava o medo com a realidade que saltava aos olhos de todos, mostrando que estávamos seguindo para o desconhecido, inseguro, imprevisível e perigoso.

Mesmo depois de ter percorrido centenas de quilômetros depois da fronteira entre São Paulo e o Paraná em estradas de chão, escorregadias pela lama da terra roxa que atolava até os pensamentos e buracos enormes, o pior ainda não havia chegado.

Enfrentar uma mata virgem por todos os lados, percorrendo um túnel formado pelas árvores centenárias e fechadas, era ainda mais aterrador para quem nunca tinha passado por uma aventura dessas proporções. Para as mulheres e crianças, então, foi um assombro!

Basta dizer que o cenário causava pavor até mesmo para os que já viviam nas clareiras abertas pelo Norte Novíssimo afora, que sentiam na pele as agruras de cair num fim de mundo jamais antes explorado.

Imaginem o olhar de espanto para quem vivia em cidades ou campos colonizados décadas antes, onde contavam com uma série de benefícios, mesmo sendo primários, como a energia elétrica, apenas para citar um.

Porém, inconformados com a falta de trabalho e a penúria econômica em que viveram até então em seu torrão natal, os primeiros colonos respiravam fundo e enchiam o coração de audácia para participar dessa odisséia que estava apenas começando no descobrimento deste novo mundo, que se descortinava à frente em pleno seio de uma selva continental.

Ônibus, caminhões carregados de mudanças e até mesmo carros de passeio com os bagageiros cheios de tralhas, traziam famílias para esta nova fronteira que surgia.

Mas... antes de começar uma viagem que seria absolutamente inesquecível para todos os que participavam dessa loucura, os motoristas paravam nos arredores de Maringá, num amplo descampado que existia, onde havia algumas churrascarias, hotéis e botecos, postos de gasolina e borracharias. Todos rústicos, de aparência feiosa e com quase nenhum conforto a oferecer aos viajantes.

Naquele lugar faziam uma longa pausa, um dia e uma noite inteira, armazenando coragem e energias para enfrentar um desafio titânico: cortar a floresta percorrendo um sendeiro acidentado e imprevisível no coração da selva de outrora.

Para quem vinha para Umuarama, ou paragens próximas, os velhos e experientes motoristas já iam avisando dos terríveis sacrifícios que todos teriam que enfrentar. Portanto, o conselho era descansar bastante, se alimentar bem, especialmente para quem tinha na família crianças e velhinhos.

E vinha o alerta: depois de iniciar o percurso da trilha, não haveria mais volta, a ordem era parar no ponto final da expedição, ou seja, Umuarama, ou qual fosse outro destino escolhido pelos viajores.

Até acampamentos eram improvisados naquela área de Maringá, para aqueles que não podiam pagar hotel ou pousadas. Era preciso descansar bem, pois a viagem que viria a seguir poderia demorar uma noite e um dia inteiro, caso não chovesse. Do contrário, aí o futuro a Deus pertencia...

O mesmo ocorreria se um veículo – ônibus ou caminhão -  quebrasse no meio do trajeto. Valia ainda rezar para que ninguém ficasse doente, porque não encontraria hospitais nem médicos. Portanto, todos sabiam de antemão que, quando chegassem ao lugar desejado, poderia ter a certeza de que acabavam de cometer um ato de heroísmo, algo sobre-humano, com provas incontáveis de resistência física e emocional. Certamente, passariam por uma aventura antes nunca experimentada em suas vidas. Atualmente, um percurso assim é inimaginável, certamente chamariam de “Missão Impossível”... (ITALO FÁBIO CASCIOLA)

LIVRO

Esta crônica faz parte do livro “Memórias de um Repórter”, que pode ser encontrado na Biblioteca do Centro Cultural e nas bibliotecas das escolas de Umuarama. (Texto e fotos protegidos pelo Direito Autoral)

www.colunaitalo.com.br

Quando chovia, ônibus e passageiros atolavam até a alma no barro...

Nas áreas descampadas, a trilha antiga virava um canal de barro com as chuvas; e quem tentava atravessar, fatalmente atolava...

Atravessar rios, na época em que não havia pontes, só através de balsas; um desafio nas águas do Ivaí, reinando no meio da mata virgem.

A trilha não era feita só de buracos e lama, havia alguns trechos de areia que facilitavam o tráfego, embora estreito, de veículos.

Um passado impossível de esquecer: Trilha marcada por viagens memoráveis atravessando um mundo verde cheio de mistérios e surpresas...

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